A Globo e os bancos querem um mundo melhor. Sim, eles podem!

27/09/2017 15:32 - Blog do Celio Gomes
Por Redação

Para escapar de certas armadilhas intelectuais, ou simplesmente para não cair em golpes publicitários, basta ficar um pouco mais alerta. É comum que essas duas ameaças apareçam combinadas e casadinhas em eventos apresentados como de alto nível, para capturar sua atenção – e seu dinheiro.

 

Tenho certeza que algum evento caça-níquel, como o que acabo de descrever acima, está marcado para ocorrer agora mesmo, em algum auditório perto de você. Vender baboseiras como se fossem pensamentos profundos, numa embalagem de slogans modernosos, é uma das indústrias mais lucrativas no mercadão das ideias feitas.

 

Os seminários e palestras que prometem transformar a vida e redimensionar a quadratura do círculo se espalham pelo Brasil. Dos confins da floresta amazônica à beira da praia ensolarada de Maragogi, por exemplo, um gênio que tudo sabe vai começar a falar. Plateias ávidas por fórmulas mirabolantes de sucesso estão prontas para acreditar em tudo, até em milagres.

 

Escrevo tudo isso porque vejo o anúncio da palestra mais aguardada pelo Brasil em todos os tempos. Barack Obama, o guru que foi presidente dos Estados Unidos durante oito anos, vem aí com suas lições para salvar o país e o planeta. O homem é o convidado especial de um convescote promovido pelo banco Santander em parceria com o jornal Valor Econômico.

 

Veja se isso faz algum sentido. O tema da palestra de Obama é Mudar o mundo? Sim você pode! Para aprender como concretizar a façanha do americano, o ingresso mais barato custa 5 mil reais. Isso mesmo. Se quiser ouvir a mágica de um assento mais favorável, o preço sobe para 7 mil e 500 reais. Repare que o negócio é uma tabelinha entre um banco e um jornal das Organizações Globo.

 

Aí você pensa: quem mais estaria preocupado em mudar o mundo, para melhor é claro, se não um banco e a família Marinho? É perfeito. O título da palestra repete o slogan da primeira campanha presidencial de Obama, lá de 2008. Nove anos depois, ele continua ensinando o segredo, e multidões continuam a pagar – caro – pelo manual exclusivo e infalível.

 

O slogan de Obama é um miserável lugar-comum, com toda a fachada de originalidade e nenhuma essência de verdade. (Tratei disso no texto anterior). Sua palavra de ordem para vender o que não existe resume-se a uma sem-vergonhice publicitária, típica do ideário dominante em nossos dias e, ao mesmo tempo, idêntica às pilantragens marqueteiras de todas as épocas.

  

O que explica o triunfo de tamanha fraude intelectual, exibida com desassombro em cartazes, meios eletrônicos e letreiros luminosos? No caso específico de Obama, o poder descomunal do cargo que exerceu e a fama planetária são fatores decisivos. Não importa o que ele diga, a besteira grandiloquente será recebida como peça fundamental do conhecimento nos auditórios amestrados.

 

É assim que funciona a indústria da ignorância globalizada. Não esqueça. Um banco (que representa o setor mais lucrativo da economia) e a família mais rica do país querem um mundo melhor para todos. Quem duvida? Para nos convencer de suas intenções altruístas, fazem qualquer esforço pelo povo – e recorrem a um mito contemporâneo.

 

Neste mundo ou em qualquer outro, quando tudo estiver transformado, os mercadores de ilusões estarão por aí a mercadejar. Mas não adianta. Nada, nenhuma credencial, por mais festiva e barulhenta, será capaz de pingar substância onde só há embuste e falsificações. Caia fora.

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