Você percebe que o país atravessa um momento bem particular, ou mesmo sem precedentes históricos, quando lê na imprensa uma pesquisa sobre o índice de aprovação popular ao trabalho de um juiz, um integrante do Poder Judiciário. A notícia foi um dos destaques deste domingo, 24 de setembro. Alguém se lembra de outras épocas em que coisas assim aconteciam entre nós?

 

Saiu na grande imprensa. O levantamento é do Instituto Ipsos. Os dados informam como o povo avalia a atuação de onze personalidades da vida pública. Desse time, nove são políticos, com ou sem mandato. Os outros dois nomes são o ex-ministro do STF Joaquim Barbosa e o juiz Sergio Moro. (Ensaiando uma candidatura no próximo ano, Barbosa já é visto como um político).

 

Mas a pesquisa é notícia – com forte repercussão – por causa de Moro, o magistrado de Curitiba que está no coração da Operação Lava Jato. É sobre ele que vamos especular. A novidade é que, informa o instituto, disparou a rejeição à figura do rei da filosofia do “prendo e arrebento”. Seus métodos são aprovados por 48% dos entrevistados, mas o homem tem a rejeição de nada menos que 45% dos brasileiros. Empate técnico.

 

O resultado é péssimo para o juiz e toda a sua turma curitibana. A comparação que todos fazem é com o desempenho do ex-presidente Lula na mesma consulta popular. Os dados completos podem ser facilmente verificados em diferentes sites. Não vejo necessidade de reproduzir tudo aqui. Vou direto a alguma interpretação e a vários palpites sobre o quadro obtido.

 

O panorama é trágico para Moro porque, enquanto sua rejeição avança, a de Lula diminui. E enquanto a aprovação a Lula sobe, a do juiz desce, em relação aos meses anteriores. É bastante revelador que isso ocorra depois de o juiz condenar o ex-presidente – e após as acusações contra Lula feitas pelo ex-ministro Antonio Palocci, em depoimento ao próprio Moro. O efeito previsível não seria o contrário?

 

Talvez sim, caso o juiz Moro agisse com o devido decoro e não tivesse se transformado numa festiva celebridade, a receber troféus como se fosse o último herói do nosso tempo. Sua presença no cinema, com saquinho de pipoca e tudo, para ver o filme que o trata como dono da moralidade nacional, é o exemplo definitivo de alguém dominado por uma vaidade indecente.

 

Ao que parece, o grande público tende a repudiar, cada vez mais, a boçalidade estridente de um membro da Justiça que, afinal, deve se comportar como um magistrado, e não como um inimigo do réu, seja ele quem for. Um convicto adepto da estratégia de se valer do barulho na imprensa para emplacar suas teses, Moro é vítima do veneno previsto em sua própria receita.

 

Não discuto aqui a culpa ou a inocência de Lula. Trato dos métodos de investigadores e do Judiciário. O juiz vive o mesmo drama dos procuradores juvenis da República de Curitiba. De maneira irresponsável, e com manifestações cretinas, fazem política o tempo todo, atacam as instituições com inédita desfaçatez e condenam investigados pelas redes sociais. Parece um bando de maníacos descontrolados.

 

A pesquisa, que ajuda Lula e repudia Moro, expressa a percepção desses abusos em série. Escrevo mais uma vez o que está em textos anteriores: precisamos combater o erro, a corrupção e a delinquência, é claro; mas isso não pode ocorrer por meios ilegais e atos delinquentes.