Professor aloprado e ódio ao jornalismo

23/09/2017 18:54 - Blog do Celio Gomes
Por Redação

Uma das coisas mais exóticas que descobri nos tempos de universitário – isso já faz trinta anos – foi que existe uma fanática e indestrutível aversão ao jornalismo por parte dos professores de jornalismo. Parece uma contradição inexplicável, mas é assim mesmo nas faculdades de Comunicação Social. Ao menos nas universidades públicas federais, eis uma tradição que se estabeleceu definitivamente.

 

Pelas informações que circulam, sei que hoje a situação é rigorosamente a mesma, ou talvez até mais grave. Nas aulas de jornalismo, aprende-se de tudo, menos como fazer uma pauta, apurar um assunto, escrever uma reportagem e outras habilidades que nossos mestres julgam inúteis e desprezíveis. Altamente qualificados, estão na academia para cumprir missões mais nobres do que essas futilidades da imprensa.

 

Um dos objetivos principais de mestres e doutores é revelar ao pobre aluno o admirável mundo novo da “consciência crítica”. Do curso de jornalismo você pode sair prontinho para ser um ativista das causas mais urgentes da humanidade. Já informações sobre texto e edição, por exemplo, aí não. Essas banalidades não interessam a tais pensadores, ainda que não façam a menor ideia do que seja uma redação de verdade.

 

Não importa a disciplina, o mantra na cabeça de professores é esculhambar os grandes veículos de imprensa do país. O problema mortal é que só sabem fazer isso – e repetem o palavrório ao longo de décadas, desde a criação do curso na universidade brasileira. Essa postura populista é bem conveniente, serve de biombo para ocultar a reincidente mediocridade na sala de aula.

 

Outra marca assustadora é a total ignorância dos doutores sobre a fascinante história da imprensa. Nunca vi um professor fazer qualquer menção a episódios, nomes ou momentos decisivos que tivessem no centro as páginas do jornalismo praticado no país ou mundo afora. Livros existem. Mas ninguém lê nada no planeta paralelo em que vivem os que deveriam ensinar algo sobre jornalismo.

 

No curso de Comunicação, as aulas versam sobre ideologia, status quo, hegemonia, cultura dominante, cultura marginal, combate à burguesia, comunicação de massa, comunicação popular, brechas para mensagens alternativas... É a cartilha perfeita de um marxismo rebaixado. Para repetir essa ladainha, ninguém precisa estudar nada. É o mundo ideal para o professor aloprado.

 

Tudo isso ganha uma fachada de modernidade quando o professor titular navega por uma pegada transdisciplinar. Para isso, basta recorrer a algum intelectual da moda, de origem francesa, que alia divagações ilegíveis a uma repaginada militância de modelo progressista. É mais uma roupa nova para o esqueleto de sempre.

 

Com a internet, abriu-se o vasto horizonte do mundo virtual e suas redes sociais. Sem dúvida um caminho valioso para pesquisas. Mas, limitados e pragmáticos até a medula, os mestres já despejam sobre esse campo os mesmos cacoetes e charlatanices com os quais sempre exerceram a arte de ensinar. Ou seja, conhecimento de jornalismo que é bom, das bancas universitárias, não sai nada.

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