O delírio de uma intervenção militar

18/09/2017 14:51 - Blog do Celio Gomes
Por Redação

Talvez por falta de ocupação, um general andou por aí defendendo uma intervenção militar no país. A convicção imbecil foi exposta durante uma palestra em Brasília. As reações foram previsíveis. A direção nacional do PT divulgou nota para condenar a ideia. Alarmistas vociferam a iminente ameaça dos quartéis. E militantes de todas as cores denunciam a intolerância da extrema direita golpista.

A manifestação do general desocupado ocorre dias depois das palavras de Zezé di Camargo, esse exemplo de talento e consciência crítica na arte brasileira. O cantor acha que deveria ocorrer uma ação fardada para “ajustar as coisas”. Não foram os primeiros e não serão os últimos a expor a ignorância política e o apreço pela arbitrariedade.

A volta dos militares é uma idiota cogitação há mais de trinta anos, ou seja, desde que a ditadura acabou. Durante o governo Sarney, o primeiro pós-presidentes fardados, a pauta esteve na ordem do dia em vários momentos. Naquela época de pandemônio na economia e na política, a ameaça era levada mais a sério do que viria a ocorrer nos anos seguintes. No fim dos anos 1980, o assunto era capa de revistas e pulava nas manchetes de jornais.

Em todas essas ocasiões, a hipótese nunca foi além de discursos tresloucados. O mesmo se dá agora. Um dos motivos alegados pelos que defendem o regime de força é a suposta honestidade dos governos militares. Um mito. A verdade é que, pela violência da censura e das perseguições, as mazelas produzidas por ditadores são simplesmente abafadas; ficam longe do conhecimento da população.

Um exemplo banal da honestidade e da seriedade de fachada na ditadura é este: filmes proibidos para o público eram exibidos, em sessões particulares, para o deleite de oficiais e comandantes dos truculentos governos. Agora imagine o que não ocorria quando os interesses iam além de uma piada como essa.

O desejo pelo arbítrio vai se manifestar sempre, aqui e ali, com mais ou menos ênfase. Há razões concretas para isso, é claro. Em Alagoas, por exemplo, nos últimos anos o comando regional do Exército comemora, em 31 de março, o aniversário da “Revolução”. É tosco. É delirante. Mas fica por aí. Apesar de tudo, ainda que jovem, em três décadas a democracia brasileira se consolidou pra valer.

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