No Brasil crispado pela guerra ideológica, o mundo da arte (e dos artistas) é um capítulo à parte. Incentivados pelas onipresentes redes sociais, de roqueiro analfabeto a medalhões esclerosados da MPB, todos resolveram aderir a manifestos e mobilizações. E estão convencidos de que têm muito a nos ensinar – ainda que a maioria demonstre a mais completa ignorância sobre o que esbraveja.
A última manifestação da engajada categoria deu-se em Brasília, nesta terça-feira (12/09). Um grupo formado por artistas e autodenominados ativistas ambientais foi recebido em audiência pelos presidentes da Câmara e do Senado. A turma entregou a ambos um abaixo-assinado em defesa da floresta amazônica. Agora, sim, as coisas vão melhorar bastante no coração da mata.
No encontro, a lista de celebridades preocupadas com o país é nada menos que sensacional. Para citar os mais relevantes, entre as sumidades da cultura brasileira, lá estavam: Tico Santa Cruz, Vitor Fasano, Maria Gadú, Susana Vieira e Arlete Sales. Outra figura de realce era Paula Lavigne, ex-atriz, produtora cultural e braço armado de Caetano Veloso.
Paula Lavigne se notabilizou, entre 2013 e 2015, como a mais sanguinolenta patrocinadora do Procure Saber, uma excrecência fabricada para defender a proibição de biografias não autorizadas. Sob seu comando, os maiores nomes da velha MPB se juntaram por uma causa vergonhosa: instituir a censura prévia a livros que não agradassem à turma. Chico Buarque, Gilberto Gil, Caetano e Djavan embarcaram nessa com entusiasmo. Felizmente, o STF enterrou a bandalheira.
Mas nossos astros e estrelas são versáteis. Do interesse financeiro – no caso das biografias –, pulam para o planeta das onças e jacarés. Entre um e outro, exaltam Sérgio Moro e exigem a cabeça daqueles que, segundo seu vasto conhecimento, fazem mal ao Brasil.
Um dos exotismos de tais iniciativas é que essa patota age como se fosse representante da opinião pública e das demandas sociais. Ao que parece, são personalidades com prerrogativas adquiridas por obra e graça na natureza. Falam por nós. Fato é que artista ditando regra, para além de suas habilidades de ofício – muitos com o esmero de um Tico Santa Cruz –, geralmente acaba em piada. Não há perigo de dar certo.