Janot de óculos escuros

11/09/2017 15:23 - Blog do Celio Gomes
Por Redação

O caráter de Rodrigo Janot vai sendo exposto como nunca em seus derradeiros dias no cargo de procurador-geral da República. A última peça de sua atuação circense foi uma foto divulgada – primeiro pelo site O Antagonista e depois reproduzida por toda a imprensa – que mostra o homem à mesa de um bar, na companhia de um advogado de Joesley Batista.

Não houvesse o registro da imagem, ninguém acreditaria que o tal encontro ocorrera. A descrença não seria em decorrência da integridade moral de Janot, é claro, mas pelo descaramento do episódio. Visto com a devida atenção a certos detalhes, estamos diante de algo que até parece doentio.

O aspecto mais revelador é o dado temporal. Janot e o advogado Pierpaolo Bottini se encontraram no último sábado (09/09), num bar de Brasília. Um dia antes, acossado por suas próprias armações, Janot havia solicitado ao STF a prisão de Joesley. A dupla explicou que tudo não passou de um encontro casual, sem que assuntos jurídicos estivessem no cardápio. E quem duvida? Devem ter falado sobre nudes e alguma nova tendência gourmet.  

Vocês viram a foto. O requinte do evento está nos óculos escuros do transparente procurador. Que imagem emblemática! Longe dos ambientes soturnos e cheios de etiquetas que se veem nos tribunais, operadores do Direito e agentes da lei expõem suas afinidades nos fundos de um singelo (e tão brasileiro) boteco. Sim, as esferas públicas e pessoais se ajeitam na sociologia do homem cordial.

Repito: não se combate delinquentes com delinquência. Ministério Público e Judiciário devem agir com zelo absoluto, sem alianças de ocasião com vigaristas interessados em acobertar seus próprios delitos. Métodos inescrupulosos arruínam qualquer investigação. Juízes e promotores estão impedidos por lei de fabricar provas fraudando os parâmetros legais.

Admitir esse tipo de conduta conspira não apenas contra o acusado da vez, mas contra todos os cidadãos. Quem age assim, ou está a serviço de causas exóticas, ou está apenas exercendo seu inofensivo direito à ignorância.

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