Um agente duplo no coração da República

09/09/2017 15:11 - Blog do Celio Gomes
Por Redação

Marcelo Miller, o ínclito operador do Direito que era agente duplo no circo de delações premiadas, prestou depoimento durante dez horas e saiu revoltado com um pedido de prisão contra ele. Como se sabe, a medida foi requisitada pelo desmoralizado chefe do Ministério Público Federal, Rodrigo Janot.

Miller exercia o cargo de procurador da República e era o braço direito de Janot nas negociações com o açougueiro Joesley Batista. Valendo-se dessa condição privilegiada, o versátil procurador empenhava todo o seu talento na tarefa de resolver as encrencas dos bilionários donos da JBS. Ao que tudo indica, trabalhava para o grande capital, custeado pelos cofres públicos.

É caso único? Jamais saberemos, a não ser por algum acidente de percurso, como ocorre agora. As notícias sobre o comércio de sentenças aparecem até com certa frequência, mas costumam ficar restritas aos círculos íntimos do poder. A prática acaba naturalmente protegida por pressões descomunais e códigos de sobrevivência entre os envolvidos.

É para isso, aliás, que servem as entidades e associações que representam as categorias. Com pontualidade infalível, vivem a publicar notas e notas em defesa de seus associados, de sua turma. Ao primeiro sinal de investigação sobre seus membros, lá vem uma peça de retórica e boçalidade a esgrimir lições de moral e patriotismo para todos nós.

Falta muito para que tenhamos um ordenamento jurídico que respeite princípios universais, e não apenas demandas provincianas, corporativistas e pessoais. É precisamente por isso que o terreno segue fértil ao cultivo de gente como Marcelo Miller e assemelhados.

Remédio mágico para essa aberração não existe. As armas que temos são amplamente conhecidas: a fiscalização das instituições pela imprensa e a coragem de informar. É assim porque assim é do jogo.

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