A Globo proclama a Independência

08/09/2017 22:21 - Blog do Celio Gomes
Por Redação

Quarenta e cinco anos depois de Tarcísio Meira puxar a espada à beira do riacho, chegou a vez de Caio Castro. Refiro-me, no primeiro caso, ao filme Independência ou Morte, dirigido por Carlos Coimbra, em 1972. A segunda referência é à novela Novo Mundo, exibida diariamente, no começo da noite, pela TV Globo.

O ator Tarcísio Meira – o D. Pedro do passado – é o impecável canastrão que, no fim daquela década, será protagonista de outro filme, mas agora do inclassificável A Idade da Terra, testamento de um alucinado Glauber Rocha. Entre uma peça de propaganda e uma visão caótica e delirante do país, ali, já estávamos num Brasil que se encaminhava para a chamada reabertura.

Após exibição nos cinemas, o filme de Carlos Coimbra, típica obra ufanista dos anos de terror da ditadura militar, foi massificado mesmo porque virou atração anual na TV Globo. Todo Sete de Setembro, a emissora apresentava a obra, na ainda hoje persistente Sessão da Tarde. Era, portanto, uma tabelinha ideologicamente perfeita, vamos dizer assim, entre o veículo chapa-branca e o regime do arbítrio, da tortura e da morte.

Os tempos mudam. E os galãs também. Mas as coisas se conectam e produzem sentido. Enquanto agora a canastrice aparece repaginada em um Caio Castro, no papel que já foi de Tarcísio Meira, a TV Globo reedita a história, em linguagem de folhetim de época, e mais uma vez proclama a independência do Brasil.

Não é uma grande ironia que esse reencontro da ficção se dê numa conjuntura explosiva, e tão particular, como esta que estamos vivendo? No noticiário, a História a quente na fogueira dos acontecimentos. No departamento de dramaturgia, na releitura do passado, uma interpretação própria, um recorte dos fatos, segundo valores em tudo discutíveis.

Em resumo, no jornalismo, muito drama com a notícia. Já na volta à crise do passado, tem muita comédia. Em toda a sua programação, o ostensivo engajamento da Globo é o aspecto mais engraçado. Ou o mais dramático, a depender do seu ponto de vista.

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