Cerca de duas toneladas e meia (2.500 quilos) de drogas diversas já foram apreendidas em Alagoas entre janeiro e meados de agosto deste ano, durante operações coordenadas pela Secretaria de Segurança Pública (SSP). Conforme o secretário, coronel Lima Júnior, o montante representa um “prejuízo” de mais de R$ 4 milhões e 700 mil para o tráfico.
Nessas operações também foram presas 1.121 pessoas, número 6,7% superior ao mesmo período de 2016, quando também foram retirados de circulação, nos doze meses do ano, mais de 3.150 quilos de entorpecentes.
Este ano, o maior número de apreensões foi em relação à maconha, com 2.253 quilos avaliados em R$ 3 milhões, 942 mil e 400 reais. Em seguida, vem o crack, com 23 quilos estimados em R$ 366.100; cocaína (17 quilos avaliados em R$ 376.200); e 500 gramas de LSD que seriam vendidas a R$ 20 mil reais.
Paralelamente ao aumento registrado pela Segurança Pública no número de apreensões e prisões, cresce - e ganha repercussão - também a indignação de alguns policiais com o que consideram um trabalho de “enxugar gelo” diante da rápida soltura, pela Justiça, de acusados presos em flagrante, não só por tráfico de entorpecentes, mas outros crimes graves.
Em entrevista exclusiva ao CadaMinuto, o secretário falou acerca de ambos assuntos.
Sobre o volume de apreensões, Lima Júnior destacou a integração das forças policiais como fator essencial para o êxito das operações de combate ao narcotráfico. “Hoje temos unidades que trabalham de forma integrada, como a Delegacia de Repressão ao Narcotráfico (DRN) com a Inteligência da Segurança Pública, que por sua vez estão também integrados aos batalhões de áreas, com batalhões especializados”, frisou.
Conforme o secretário, essa integração também vai além do Estado. “Algumas operações nasceram na SSP de Alagoas ou na DRN e foram desencadeadas em Goiás e Sergipe, por exemplo”, disse, explicando que, por meio do trabalho de acompanhamento da Inteligência, tem sido possível interceptar algumas cargas assim que elas entram no Estado, para que nenhuma droga seja repassada ou comercializada no itinerário.
“Nosso objetivo primordial é apreender o maior número de drogas possível e prender quem está por trás disso... Fizemos grandes apreensões no interior, mas, não significa dizer que aquele município ia absorver a droga”, afirmou Lima Júnior, destacando a importância do Disque-Denúncia (181) no combate ao tráfico de entorpecentes e a todos os outros crimes: “É uma ferramenta fundamental, uma grande parceria da SSP com a sociedade alagoana do bem”.
Depois que os entorpecentes são apreendidos é aberto um inquérito e encaminhado à Justiça, onde o delegado responsável solicita a incineração das drogas após a realização das perícias e a conclusão do trâmite legal, para não haver risco de o material voltar a ser comercializado.
Em relação às recentes polêmicas envolvendo policiais, que tornaram pública a revolta contra a soltura de presos em flagrante, e membros do Judiciário, Lima Júnior evitou fazer juízo de valores, mas frisou que o problema não é da Justiça, mas da legislação penal.
A constatação é clara, como se pode constatar por meio de matérias veiculadas na imprensa e nos próprios relatórios de ocorrências: é enorme a quantidade de pessoas presas ou menores apreendidos mais de uma vez, pelos mesmos crimes, em curtos espaços de tempo. Embora seja antigo, o problema agora tem tido mais visibilidade com a divulgação de vídeos que rapidamente se tornam virais nas redes, contendo desabafos de policiais que acreditam ter o trabalho “desfeito” graças a brandura das leis.
Recentemente, em um desses vídeos que viralizou, policiais expressam indignação e ironizam a soltura, menos de 24 horas depois da prisão em flagrante, de uma mulher em posse de oito armas de fogo, que supostamente seriam “alugadas” a criminosos. Sarcásticos, eles chegaram a pedir “desculpas” a suspeita pelo constrangimento.
“O problema não está na Justiça, que é composta por homens e mulheres sérios que trabalham e sabem muito bem suas atribuições. O grande problema é a legislação que norteia o trabalho dessas pessoas. Não podemos atribuir a responsabilidade pelo que está errado aos aplicadores da lei. Temos que despertar uma consciência política no povo brasileiro para que haja um reforma no Código Penal que minimize o crescimento do crime”, disse o secretário.
Exemplificando a fragilidade da legislação vigente, Lima Júnior comentou que é inconcebível o número de fuzis que existem hoje no Brasil. “O Rio de Janeiro é uma prova disso, mas temos fuzis em Alagoas também. Para um policial comprar uma arma de uso restrito o processo é tão burocrático que chega a levar mais de um ano. Porém, em nosso Estado temos hoje lotes de armas de fogo de uso restrito chegando por meio de organizações criminosas em menos de 15 dias”, lamentou.
Lima Júnior sugeriu que o Congresso Nacional deveria convocar todos os secretários de segurança pública do país e abrir uma ampla discussão com vistas a modificar e amadurecer a legislação e tocou em um assunto polêmico: a questão da maioridade penal.
“O problema de violência hoje não é só armamento, não é audiência de custódia, não é só progressão de pena... Temos problemas muito mais graves como a legislação do menor, por exemplo, que hoje tem uma participação crescente no mundo do crime”, afirmou, acrescentando que leis mais duras são essenciais para o êxito do combate a violência.
“A legislação precisa ser mais forte, principalmente contra o crime organizado que é o grande câncer do país. Temos facções em guerra onde o atrito entre elas elevam em mais de 50% o número de homicídios no país. Isso é muito grave. Os governos federal, estadual e municipal precisam se unir no combate a essas facções a essas organizações criminosas”, apelou, por fim, o secretário de Segurança Pública de Alagoas.