O dia 05 de outubro de 2016 ficou marcado para a família de Joana de Oliveira Mendes. Talvez, para a sociedade alagoana tenha sido apenas mais um assassinato, mas para os amigos, parentes e familiares da vítima, a data representou uma crueldade que ficou estampada nos sites de notícias e jornais de Maceió.
O acusado e ex-companheiro de Joana, Arnóbio Henrique Cavalcante de Melo, por não aceitar o fim do relacionamento e ao saber que Joana iria embora da cidade, marcou com a vítima para conversar sob o pretexto de querer assinar os documentos do divórcio de maneira "amigável". Foi em um trecho de uma rua no bairro do Santo Eduardo, que ele desferiu mais de 30 facadas no rosto dela, desfigurando-a. "A intenção dele não era apenas de matar minha irmã, mas sim de destruí-la", ressaltou a irmã, Júlia Mendes.
Com requintes de crueldade e traços de obsessão, segundo a irmã de Joana, Arnóbio sempre demonstrou ser alguém obsessivo e possessivo. Segundo os relatos fornecidos por Júlia à reportagem do Cada Minuto, com um mês de namoro, Arnóbio deu de presente à Joana uma corrente com duas algemas entrelaçadas.
"Isso me assustou muito, a simbologia da algema é algo muito forte e ele sempre dizia que só se separaria dela, se ele morresse", comentou.
Ainda de acordo com Júlia, os traços de obsessão não pararam por aí. "Com três meses de namoro, ele fez uma tatuagem do rosto dela na perna. Isso é assustador!", ressaltou a irmã.
Mas, segundo Júlia, Joana não se assustava com as atitudes do acusado, visto que, ela achava que isso era um cuidado, algo como um "encantamento".
"Aos poucos, Joana não fazia mais nada sem ele. Não fazia atividade física se ele não estivesse, mudou a forma de se vestir, de falar, o comportamento, os locais que frequentava, se afastou das amigas e por fim, até de mim", contou Júlia.
Agressões
Já com o comportamento "diferenciado", Joana apresentava alguns hematomas no corpo. "Ela sempre usava a mesma desculpa: "eu caí"; "eu me machuquei"; "eu escorreguei".
A irmã da vítima afirmou nunca ter presenciado alguma agressão, porém, a advogada Andreia Alfama comentou que foi com Joana prestar queixa contra Arnóbio na Delegacia. "Inclusive, outras mulheres também já prestaram queixa anteriormente contra ele, todas envolvendo agressão física ou psicólogica".
O crime
Joana havia terminado o relacionamento com o acusado e tinha decidido ir embora de Maceió. Arnóbio, teria entrado em contato com ela pelo telefone e a chamado para conversar amigavelmente. Joana foi ao encontro do acusado que a esfaqueou dentro de um veículo que estava localizado em um trecho da Travessa Sargento Benevides, no bairro do Santo Eduardo.
"Ele a deixou dentro de um carro sangrando, isso não se faz nem com um animal, mas ele quis acabar com a vida dela", informou a advogada Andreia Alfama.
"Na audiência, disseram que os cortes dados na Joana eram superficiais e que foi utilizada uma faca de mesa. Se você faz a análise, a faca tinha 30 cm. Quando a faca foi encontrada, a lâmina estava com a ponta quebrada, então foi um empenho de tanta força, violência e brutalidade que a própria faca quebrou e o velório precisou ser de caixão fechado", ressaltou a advogada.
"A Joana ficou desfigurada, então não me venha falar que foram cortes superficiais, o lado direito da cabeça dela foi solta e uma das facadas atingiu o olho que ficou pendurado. Como pode alguém dizer que foram cortes superficiais?", indagou Andreia.
Joana não deixou apenas dois filhos, um de 03 e outro de 15 anos, mas deixou uma família, amigos, parentes, carreira e sonhos que não foram realizados.
Audiência de instrução
Segundo a assessoria de Comunicação do Tribunal de Justiça de Alagoas (TJ/AL) ao todo, serão ouvidas 17 pessoas, entre 12 testemunhas da defesa, mais quatro do MP/AL, uma testemunha referida (mencionada por outra testemunha durante depoimento) e o réu Arnóbio Henrique.
No dia 19 de junho, foram ouvidas três testemunhas arroladas pelo Ministério Público Estadual (MP/AL) e quatro pela defesa, que falaram sobre o relacionamento entre a vítima e o réu.
Entre as testemunhas ouvidas estão a empregada doméstica há mais de 22 anos da família do réu, Damiana Gouveia, que encontrou a faca do crime na garagem da casa da mãe de Arnóbio Henrique, o irmão dele Pedro Hudson Cavalcante Filho e o amigo Christiano Eduardo Leite Beltrão.
Em depoimento, Christiano Beltrão disse que já tinha aconselhado o amigo a terminar o relacionamento e que recebeu a notícia do assassinato de Joana com “surpresa e perplexidade”, disse ainda, que estava viajando para um jogo em Natal quando viu uma matéria em um grupo do whatsapp.
“Aparentemente nós percebíamos que ele não era feliz com ela. Hoje acho que ele está melhor do que antes. Nós o notávamos abatido. Eu, pessoalmente, não o via feliz com a Joana”, declarou a testemunha.
Um dos depoimentos também comentou que Arnóbio sofria de um problema de tireóide que poderia ter alterado o humor dele no dia do crime.
Nesta terça-feira (04), a juíza Lorena Carla Sotto-Mayor, da 7ª Vara Criminal da Capital dará continuidade ouvindo mais testemunhas de defesa, uma do MP e o réu que será ouvido através de videoconferência.
Advogado de defesa
Segundo o advogado de defesa, Raimundo Palmeira, ainda não há uma tese defensiva para o caso e foi feito um pedido para a realização de um exame de impressão digital, no cabo da faca, para que seja possível saber se houve atrito entre a vítima e o réu no momento do crime. Palmeira, afirma que seu cliente continua muito nervoso com a situação e não se lembra de detalhes do ocorrido.
“Quando nós temos um depoimento do réu em que ele demonstra lembrar perfeitamente dos fatos, nós temos já de início uma linha defensiva a seguir. Então hoje, nós não temos uma linha defensiva clara porque ele apresenta uma memória lacunar escura dos fatos. Estamos procurando investigar o que houve. É muito importante precisar que a tese deve ser construída sob fatos concretos, precisados”, disse Palmeira.
Justiça
A família e os amigos clamam por Justiça, mas ressaltam que não há pena para um crime bárbaro como este. Além disto, a família faz um alerta para as mulheres que são vítimas de relacionamentos abusivos. De acordo com a irmã de Joana, é preciso que as mulheres denunciem e percebam que em alguns relacionamentos, esse "cuidado" e "zelo" não é amor.
"A mulher sempre arruma uma desculpa que é para não enxergar que o companheiro é um possível agressor. Foi o que minha irmã fez. Que o caso dela sirva de lição para todas aquelas mulheres que passam por isso. Não quero que a sociedade esqueça o que aconteceu com a Joana, pois isso acontece todos os dias", finalizou.