Invisíveis à margem do Perucaba

16/04/2017 21:49 - Clau Soares
Por redação
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Domingo. Às margens do Lago Perucaba, Eriberto Tavares, 68 anos, aguardava a chegada do fotógrafo e cineasta, Tarcísio Ferreira, para uma entrevista. O entrevistado, que estava acompanhado de algumas pessoas,  não demonstrou constrangimento por ter ainda a jornalista não anunciada previamente. Minha missão era apenas auxiliar o trabalho do fotógrafo, mas como não se envolver com tantas histórias desconhecidas de Arapiraca? Aqui, vai mais uma.

A pele muito queimada de seu Eriberto denuncia o trabalho sob o sol. Ele, pescador desde criança, conta que já fez de tudo nessa vida, mas as águas sempre apareceram como ponto seguro de sua jornada. Natural de São Brás, nasceu às margens do Rio São Francisco, e veio, ainda criança, para Arapiraca com os pais.

A família procurava um meio de sobreviver. O matadouro público foi a primeira opção. Ali, viu sua vida acontecer. Era da “matança” para o açude do governo, como era chamado o Lago da Perucaba, construído ainda na década de 1960, pelo Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS), com as metas de incentivar a piscicultura e contribuir para o abastecimento local.

(O advogado e pesquisador, Inaldo Valões, fez um apanhado de informações oficiais sobre o Perucaba. Segundo ele, o projeto  do açude é de 1958, com a liberação dos recursos em 1962. A obra foi concluída somente em 1964.)

Cará (tilápia), corvina, traíra, piau. As espécies de peixe ainda são encontradas nas águas do Perucaba, mas, para Eriberto, as mudanças foram muito rápidas. Às margens, ele e outros poucos ainda pescam no local onde o desenrolar da vida aconteceu. “A gente vende e também come o peixe daqui”, diz.

No lago, que também recebeu, por anos, os dejetos do matadouro público, hoje desativado,  pequenos criatórios de peixes são um indício de resistência. Pontos quase invisíveis para quem não se aproxima da margem. “Esse lago é uma mãe”, declara Eriberto.

Embora não residam oficialmente no local, onde ainda restam alguns barracos, os pescadores parecem ter mais que um laço de trabalho com o açude. O tipo de ligação cujo tempo – somente ele – é capaz de fazer.

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