QUEM MATOU MARIA EDUARDA?
Sou professor na escola Escola Municipal Daniel Piza, na Pavuna, na Zona Norte do Rio de Janeiro. Estava lá ontem durante o ocorrido. Ela foi executada pela Polícia Militar, pelas costas, o perito contou na minha frente, três furos de bala (cabeça, nuca e costas). No IML acharam mais uma perfuração, na nádega. Isso foi as 15h45min. O corpo só foi removido após as 20h30min! Muita tristeza e dor. Ela tinha 13 anos. Estava na equipe de esporte do colégio. A Educação Física do colégio faz um trabalho exemplar. Ela conseguiu bolsa de atleta pra estudar em outra escola particular. Tinha sonhos com isto. Alunos considerados "perdidos" e "problemáticos", entraram para a equipe de esportes e viraram alunos exemplares em comportamento e interesse pela escola. Eles amam a atividade e a escola. Ela estava em aula-treino, foi beber água. A polícia chegou atirando, assim. Ela não conseguiu se abaixar. Morreu.
Não havia operação policial. Os policiais passaram do outro lado do rio, viram um com fuzil, apontaram. Da boca deram três tiros de pistola, eles responderam com rajadas de fuzil, que matou o menino do fuzil, outra pessoa que passava (sinceramente não sei se era do movimento), e a aluna. Muitos tiros na direção da escola. De um ângulo que só estava a polícia. Não houve tempo nem de suspender as aulas, como de hábito, foi de surpresa. Ela e outros estavam no meio do caminho, não conseguiu se abaixar a tempo. Não conseguimos socorrer imediatamente. O tiro comeu. Na primeira brecha que deu um funcionário foi ao corpo e já estava morta. Quatro tiros pelas costas (nádega, costas, nuca e cabeça ). Esse momento do funcionário vendo o corpo está registrado no vídeo que mostra os PMs executando os dois no chão. Este é exatamente o ângulo que a polícia deu os tiros no muro. Ligamos pra 193, 190, 192, mas ninguém foi. Ela morreu. Fizemos o que podíamos. A polícia não poderia, em hipótese alguma, ter revidado na direção da escola. Eles assumiram o risco de matar crianças, e o fizeram. Por coisa de centímetros, não foram três mortos no colégio, duas balas passaram de raspão em dois alunos.
A polícia militar executou ela. Ela morreu. 13 anos. Na escola. O corpo dela caído no chão é o que eu lembro. Virará estatística. É mais uma jovem, preta, favelada, morta pela polícia militar e por esta política de extermínio deliberada. 13 anos. Como dormir com isso? Como voltar a escola? Como dar esperança para eles? Ódio e revolta são os sentimentos na favela, justo. Muito justo. A sociedade trata com ódio os favelados, este ódio retornará.
Fonte: Alcidesio Júnior