Eu já a conheci fora do centro de Ressocialização, contava 20 anos.

Nascida em um prostíbulo, nunca soube quem é o pai. A mãe também não sabe.

Era uma menina marcada por tatuagens em todo corpo. Estava limpa fazia quase um ano, apesar de ajudar a mãe- para ganhar um troco- nos afazeres do bar, que tinham em casa.

Era menina determinada, de fala firme e sempre reforçava o “Vou conseguir”.

Batalhou, muito, muito e muito  por uma ocupação formal no mercado de trabalho.

A vida pregressa e o histórico só atraiam portas, secularmente, fechadas.

Não conseguiu.

Era uma moça se fazendo mulher, como dessas que  a gente tem em casa e chama de filha, mas, o estigma social tornou-a algo descartável.  

A tatuagem-declaração  de amor cravada no pescoço assustava as pessoas.

E as pessoas faziam disso uma arma para excluí-la. O gatilho está sempre atento para gente assim “fora do padrão”.

Um dia se relacionou com igual a ela, que fazia pouco tinha saído do internamento e o descaso social, o racismo camaleão as isolou, em espaços exclusivos e miseráveis.

Depois de quase um ano sem usar droga, a moça preta tatuada conheceu o crack pela mão da amante.

O poder da  droga, a indiferença social iniciaram sua jornada rumo ao pandemônio dos desencontros.

E a moça surtou. Hoje está interna em uma Casa para doentes mentais.

A essocialização das meninas socioeducativas é o grande desafio dos municípios e do Estado.

 Sair da Unidade de Internação e continuar fora dela não é uma tarefa fácil para muitos jovens.

O trabalho e o estudo  são ferramentas chaves para uma  ressocialização bem-sucedida.

Quem representa o ocaso dessa moça  egressa  do sistema socioeducativo?

Quem se importa?