A pan-africanista de Brasília, Anin Urasse escreve e compartilho a fala.

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Vou contar um segredo: não é só Carlos Moore que fala sobre o racismo em Cuba.

Ano passado, conheci uma autora cubana chamada Teresa Cárdenas, que esteve no brasil tb esse ano. Teresa Cárdenas tem 2 livros publicados aqui: "Cartas para minha mãe" e "Cachorro Velho" (meu favorito). Ambos são de literatura. Especialmente no "Cartas para minha mãe", Teresa deixa nítido o racismo da sociedade cubana: são cartas que uma menina preta escreve para sua mãe morta, em que ela conta o drama sofrido por causa de seu cabelo, nariz, pele... (Aquilo tudo que a gente vive na pele).

Teresa fez algumas falas, e numa delas contou como o debate racial é suprimido em Cuba. Como toda vez que se falava de raça, o governo respondia que naquele momento não havia tempo pra cuidar disso porque estavam lutando contra o imperialismo norte-americano.

Ano passado, também, conheci o programa cubano de doença falciforme (uma doença, como sabemos, de preto) através de um dos ex-secretários de saúde de Cuba que estava num workshop de hemoglobinopatias no Pará (vejam como o mundo é pequeno). Cuba impede o nascimento de crianças com doença falciforme. O médico comemorava que, em 20 anos, reduziu em 40% o nascimento destas crianças, através de um programa de aborto direcionado a mulheres (obviamente) negras. Eugenia pouca é bobagem. Podem pesquisar.

Eu poderia falar mil coisas aqui. Há que parar com a afetação. Toda vez que lhe contarem uma história, se pergunte onde estava o nosso povo naquela história.

Ninguém está negando que em Cuba a chance de um menino preto se tornar médico é maior que aqui. Que houve luta contra o imperialismo. Que a educação e o sistema de saúde beneficiam o povo preto. Mas em que valores sua sociedade se assenta? O povo preto está no poder? Um sistema de saúde incrível não resolve, se ele servir pra implementar programa que impeçam o nascimento de crianças com DF. É disso que estamos falando. A gente não quer só comida, certo?

Mas quem fala isso deve ser reacionário pan-africanista de direita financiado pela cia. Eu só sei que, se Fidel Castro fosse um homem preto ele estaria morto há muitos anos. Eu não conheço nenhum revolucionário preto que tenha morrido de velhice aos 90 anos. Eita mundão infantil.