Um depoimento de novembro para despertar a consciência de que é a família , como primeira instituição, a essência da nossa construção como pessoas e da negritude além da pele. Nos fala Cidinha Silva:
"Fiquei emocionada quando me lembrei que no segundo período do meu curso universitário, tinha aulas aos sábados pela manhã.
No quarto sábado de aula, quando chegava para subir a rampa da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas de Goiatuba, no estado de Minas Gerais saiu esbaforida de um dos prédios chiques que cercavam o antigo e decadente prédio da universidade, uma moça negra que gritava “Parecida, Parecida, me espera”. Aguardei, surpresa.
Era Rosana que havia sido minha colega de turma no segundo ano primário, nove anos atrás. Depois de me abraçar, perguntar se eu me lembrava dela e de ouvir minha resposta afirmativa, ela me disse uma das coisas mais marcantes da minha vida: -“Eu trabalho naquele prédio ali e quando te vi da janela, há três sábados, eu sabia que era você. Eu sabia que você ia conseguir. Eu sabia que você ia fazer faculdade. E eu vim aqui para falar com você, mesmo sem saber se você ia se lembrar de mim, para te dizer que todo sábado de manhã, quando você sobe essas escadas, eu subo junto com você, eu entro junto com você na sala de aula. E quando você sair dali, formada, eu vou me formar junto com você.”
Eu, como vocês imaginam, chorei como choro agora, e só consegui abraçar aquela mulher-gigante e me recostar nos ombros dela, consternada por todo Axé que ela me dava. E, se vocês não entenderam, eu só consegui como Rosana disse, porque tive uma família digna e amorosa, como a família de Subúrbia e que cuidou de mim como criança, quando eu era criança. “