'Fui preso sem ter cometido crime. Me acusaram injustamente. Não é porque a gente é pobre e preto que tem sempre que levar a culpa."
Bruno, 19 anos, preto, pobre e morador das periferias marginalizadas em Maceió, AL, assumiu seu lugar à mesa visivelmente emocionado e ao começar a falar caiu em prantos. A mãe ao lado dava-lhe conforto e sustentação.
Ele falou da acusação que lhe foi imposta. Ele falou de ter sido preso injustamente. Ele falou das dores que ainda massacram a alma e da hora do sono, quando os pesadelos o perturbam. Ele falou muito pouco, pois o choro convulsivo cortou-lhe a fala.
A mãe assumiu o discurso do Bruno e afirmou: “O que meu filho passou dói até hoje. É uma cicatriz que não acaba nunca. Cumpriu por uma coisa que não cometeu. Na hora, quando cheguei, os policiais estavam dando choque, no meu menino. Como a gente é humilde eles pintam e bordam. Dizem- sempre- que a gente é ladrão. Eles só querem bater e matar. Meu filho ainda hoje sofre e eu sofro com ele.
Quando saiu da Delegacia foi para a Unidade Provisória e lá ficou 45 dias. E ali foi uma passagem de terror. Já na Chácara do diretor Antonio, que é gente boa, honesto
Eu disse ao juiz quem foi quem cometeu, mas, ninguém foi atrás"
A polícia disse:- Mãe, esse aí não tem futuro. Cuida do seu filho de 6 anos,porque esse não tem mais jeito.Mas, nunca desisti do meu filho.Hoje trabalha tem seu filhinho e está seguindo a vida.
Meu filho ainda é humilhado. Eu ainda tenho medo pelo meu filho.
Tenho muito medo!
Depoimento dado no dia 10 de maio, quando o Centro de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente Zumbi dos Palmares-CEDECA, por meio do Projeto de Defesa Jurídico Social, com patrocínio da Petrobras, realizou o Seminário “Os Adolescentes e as medidas socioeducativas: entre o paradigma punitivo e o caráter educativo”, em uma das mesas temáticas.
Em Maceió,AL.