A atividade policial impõe uma diversidade de riscos a trabalhadores que saem de suas casas com a função de assegurar proteção dos outros cidadãos. O número de crimes que tiveram como vítimas policiais, em sua maioria militares, chamou atenção e comoveu da sociedade diante do acirramento do confronto policial durante as ocorrências e a ousadia dos criminosos durante a folga dos agentes de segurança. 

Dados do Comando Geral da Polícia Militar em Alagoas (PM) mostram que o policial está sendo mais vítima de assassinato durante o seu período de folga. No ano de 2015 foram nove policiais assassinados, sendo que dois estavam no exercício da função. Até o início deste mês foram quatro mortes e apenas um estava de serviço. 

A soma das mortes de 13 mortes de policiais parece não representar tanto diante do aumento de mortes de suspeitos pela polícia – 111 em 2015 – e do total de 1.810 pessoas que tombaram em 2015. Porém, para o cidadão comum, o impacto de uma notícia sobre o assassinato ou roubo de um PM gera ainda mais a sensação de insegurança, e atiça o sentimento de caçada a suspeitos.

Exemplos de estopins desses sentimentos são os casos dos policiais do Batalhão de Policiamento de Trânsito (BPTran), vítimas de um assalto audacioso, enquanto tomam café em um conveniência do Posto de Combustível, no bairro da Ponta Grossa, no último dia 5. E do capitão Rodrigo Rodrigues, morto no último final de semana ao investigar uma denúncia em uma residência do bairro Santa Amélia.

Ao terem que se deslocarem do trabalho para casa, ou vice e versa, alguns profissionais de segurança acabam sendo alvos de assaltos nos transportes alternativos, onde muitas vezes perdem suas vidas quando o criminoso descobre sua identidade profissional. 

Para o presidente da Associação dos Oficiais Militares de Alagoas (Assomal), major Wellington Fragoso os policiais são cidadão comuns também e muitos vivem em situação de vulnerabilidade, pois não conseguem financeiramente oferta para si e seus familiares condições de moradias que o deixem longe da criminalidade. 

"Nós trabalhamos muito perto da morte. Nós colocamos as nossas vidas para salvar a vida de um membro da sociedade. Então não é possível que os policiais continuem morando em favelas, estando lado a lado com o crime. O policial sendo bem remunerado, poderá trabalhar com a mente mais leve sabendo que sua família está protegida também", argumentou Fragoso. 

Segundo o presidente da Assomal, a luta das associações em conseguir uma remuneração maior para os policiais que estão no enfrentamento diário com o crime e expondo não somente ele, como os familiares. Os policiais militares aguardam a efetivação do programa "Bico Legal" e a aprovação da Lei das Promoções.

Há mais de um ano, um canal de negociação foi aberto entre o movimento unificado dos militares de Alagoas e o Governo do Estado para corrigir erros na atual Lei de Promoção, tornando-a mais justa para todos os policiais militares e bombeiros militares. 

Apesar dos esforços e cobranças do movimento unificado, major Fragoso afirma que o Governo tem agido com morosidade e a demora na aprovação da nova Lei de Promoção tem irritado a tropa. 

Confronto entre policiais e bandidos é quase inevitável

O Comando da Polícia Militar tem reforçado as recomendações e treinamento com a finalidade evitar e prevenir o tombamento dos policiais durante as operacionalidades nas ruas. No entanto, esse confronto, na avaliação dos membros das associações militares, muita vezes não tem como evitar. 

Cabo Limeira, integrante da Associação dos Cabos e Soldados (ACS), coloca que foi perceptível a reação dos bandidos depois da saída do promotor Alfredo Gaspar de Mendonça da Secretaria de Segurança Pública (SSP) com a promoção de ataques aos policiais, mas ressalta que essa reação é vista como natural diante do combate a criminalidade que vem sendo desenvolvido.  

Ele defendeu a ida dos policiais para a linha de frente diante da ameaça do crime organizado está cada vez enfrente a segurança pública. "Saímos de casa todos os dias com o objetivo de manter a ordem, mas se houver enfrentamento que tombem mil bandidos, mas que não tombe nenhum policial. Não estou incentivando a violência, mas falando que o crime não pode ser maior", disse Limeira. 

Major Fragoso utilizou a morte do capitão da PM, Rodrigo Rodrigues para falar sobre as fatalidades que acontecem na profissão, quando uma ocorrência, considerada corriqueira e normal, como no caso do militar que atendia uma ocorrência de roubo de celular, resulta em uma morte.

"O policial tem a cautela em prevenir o confronto. Nós nunca iríamos imaginar que uma residência de porte médio fosse receber a polícia daquela maneira. Quando é na favela tudo bem, pois o policial já está acostumado a ser recebido a bala, mas recebido a bala pela classe alta, que quando acontece alguma coisa com um familiar deles vão para imprensa e pintam o sete, nós nunca imaginamos isso", afirmou o major. 

Fragoso colocou ainda que o policiai tem uma fração de segundo para decidir se morre ou se mata. "Isso ele tem que decidir na hora que está na linha de frente. Um pode ser muito tempo", completou. 

A fragilidade maior da tropa, na avaliação do presidente da ACS, cabo Wellington, está no pouco efetivo disponível para garantir a segurança nos 102 municípios. Segundo ele, os policiais ficam muito passivos a ataques quando fazendo a guarda de uma cidade contando apenas com outro companheiro de farde. "O que nós vemos muito em algumas cidades são dois policiais militares para atender a cidade toda e os povoados. É claro que o bandido não vai se sentir intimado dessa forma e partirá para o confronto", assegurou. 

Outro ponto questionado pelo cabo foi a exposição dos policiais que fazem serviços extras como segurança de estabelecimentos comerciais, que podem ser alvos dos bandidos durante assalto. 

“Rodrigo era um policial exemplar, dedicado em sua função, estava servindo na Radiopatrulha e tinha sido promovido ao posto de Capitão por nossa gestão no último certame (foto). Em nome do povo alagoano, agradeço a ele pela contribuição ao Estado e pelo grande desempenho em proteger e levar paz a sociedade. Vamos continuar trabalhando pela paz! Todo aparato de segurança pública está triste, mas vai seguir em frente em defesa do alagoano”.

Conseg: “Mortes de policiais requerem repúdio gigantesco”

O Conselho de Segurança Estadual (Conseg) solicitou do Ministério Público Estadual (MPE) um promotor para acompanhar, junto com o colegiado, as investigações sobre a assassinato do capitão da PM, Rodrigo Rodrigues, morto durante um processo de investigação, no bairro da Santa Amélia, quando apurava uma denúncia de produto roubado. 

O oficial foi atingido pelos disparos efetuados por Agnaldo Lopes Vasconcelos, proprietário do imóvel. A Polícia Militar informou que o PM se identificou e solicitou a abertura do portão, mas o acusado teria reagido. Já a defesa alega que os policiais não realizaram um abordagem padrão e o acusado agiu em legítima defesa, pois pensou que se tratava de um assalto. 

O colegiado vem realizando um levantamento sobre a condução policial em que se gerou o confronto com os bandidos. Antônio Gouveia, que preside o Conseg, afirma que o ex-secretário Alfredo Gaspar de Mendonça trouxe uma simbologia de que toda ação requer uma reação, a qual administrou bem com a tropa em suas funções nas ruas, mas destacou que ação policial depende da ação dos criminosos. 

"Não vou ficar feliz em ver uma polícia acovardada e essas mortes de policiais requerem um repúdio gigantesco, não só do Conselho, como da sociedade, mas requerem uma polícia com mais determinação", pontuou Gouveia. 

Gouveia defendeu que não se pode haver exageros sobre a argumentação de que o militar tem que reagir a toda e qualquer situação. Para isso, ele argumentou que é necessário a dosagem, dada pelo secretário de Segurança Pública, cargo ocupado atualmente pelo coronel Lima Junior. 

"É necessário que essa dosagem seja dada pelo secretário, mas precisamos de uma polícia proativa, determinada para um ambiente como o nosso, onde três policiais foram vítimas somente nos últimos 15 dias". Ainda acompanhando o caso envolvendo a conduto de policiais, o Conseg convocou os familiares dos irmãos Josenildo e Josivaldo Ferreira e do pedreiro Reinaldo Silva para prestar depoimento sobre o caso. 

A intenção, segundo Gouveia, é traçar um modelo de investigação e determinar prazos para que os assassinatos sejam de fato esclarecidos. Josenildo e Josivaldo morreram no dia 25 de março durante um suposto confronto com policiais militares do 5º Batalhão, no bairro Village Campestre, no bairro Cidade Universitária. 

Os irmãos estavam voltavam da casa de uma tia quando foram abordados. A polícia divulgou que os jovens estavam armados e durante a abordagem, teriam reagido, trocado tiros e acabaram morrendo. Já a terceira, vítima, Reinaldo Silva foi atingido por uma bala perdida e também morreu.

No entanto, a versão da PM é totalmente contestada pela família das vítimas, que afirmam que ambos tinham problemas mentais e eram atendidos pela Associação Pestalozzi e que não possuíam envolvimento com drogas.  O caso ainda no recolhimento de depoimento das testemunhas.