O professor alagoano, residente na capital em Maceió, Jaison Xanchão escreve sobre o real sentido do NATAL...
Meu primo e eu estávamos terminando de testar os brinquedos quando um menino que aparentava ter uns 8 a 10 anos veio nos oferecer balas, em plena véspera de natal e com o centro cheio, o menino vendia algo para comer, assim como vários jovens fazem nas ruas. Poderia ter apenas negado ou comprado, feito a naturalização da pobreza que nos é comum, mas no final tentei fazer diferente. Não quis as balas, meu primo também não, mas a criança, no meio de uma loja de brinquedos, com uma cesta na mão, bermuda xadrez, camisa do Vasco e o peso do mundo em suas costas, me pediu um carrinho de presente. Essas coisas partem o coração, me desarmam por completo. É uma criança e ela quer o que toda criança mais deseja de presente de natal, um brinquedo.
Tem momentos que você tem que pensar rápido e agir mais rápido ainda para não perder oportunidades únicas. Educar é um processo que envolve vários fatores e todos os nossos sentidos. Comprei e o presentiei, foi simbólico para mim, o preço era irrelevante frente aos outros brinquedos que tinha comprado para meus primos e afilhada, e principalmente, a alegria do moleque. Mas não poderia ser só isso, seria muito clichê de natal. Assim que o garoto se afastou, chamei meu primo de canto, aos olhos atentos do vendedor que colocava a pilha nos outros brinquedos, conversei com ele sobre o que é desigualdade, das suas semelhanças e das diferenças de vida dele e daquele menino que estava vendendo balas. Acho que esse foi o melhor presente que poderia dar. Meu primo ficou calado me olhando, vi que seus olhos encheram de lagrimas juntos com os meus. Gostaria que essa lição seja lembrada por ele e farei questão de sempre lembrar. A vida não é fácil e ele tem que saber disso.
As palavras que trocamos serviu como pontos para a ferida que aquela situação abriu no meu coração. Não fiz isto pelo espírito natalino, mas sim pelo mundo desigual que vivemos, pela hipocrisia capitalista imposta no natal e pela certeza de que hoje e sempre precisamos de um mundo onde o centro de nossas vidas não seja ficar feliz em comprar e sim em viver de forma plena.
Fonte: https://www.facebook.com/jaisonxanchao?fref=ts