Ela queda lá estática, anônima, solitariamente ignorada.

Sem flash, selfies, ou visita de escola acompanhada do prefeito ou secretária de educação.

Ela olha diretamente para o mar de um território mais próximo do continente africano, ali onde o Brasil se aproxima da África..

Foi na  praça,inaugurada em 1984, no  bairro de  Cruz das Almas, que foi erguido um monumento ao grande estadista que  liderou  a República  dos Palmares, entre os anos de 1670 e 1678:Ganga Zumba.

O monumento que se tornou símbolo do bairro e de um movimento primeiro de conscientização da nossa negritude palmarina e maceioense, liderado pelo professor Edson Moreira, uma das primeiras vozes do movimento negro alagoano,  ficou  “desaparecida”, por 4 longos anos, e apesar dos reclames populares, a prefeitura não deu muita trela para questão.

E pasmem a desaparecida estava “guardada” em um depósito da  mesma prefeitura.

A  estátua  retornou à praça de uma forma atropelada, na correria, às vésperas do 20 de novembro.

Não teve descerrar de pano ou inauguração simbólica, apesar do 20 de novembro.

Muito diferente da “inauguração” das estátuas dos grandes Graciliano e Aurélio Buarque de Holanda, na orla espetaculosa de Ponta Verde,  a estátua de Ganga Zumba não tem o mesmo olhar “midiático” ou fiapos de atenção, da prefeitura de Maceió.

Sem sinalização ou placas explicativas, jaz em um canto da praça, em  um bairro chamado Cruz das Almas que fica localizado entre o morro e o mar, como um  ponto de desvio  no passeio pouco.

Muita gente passa sem notar  a presença de  Ganga Zumba,  filho da princesa Aqualtune e tio do herói Zumbi , um dos grandes guerreiros de um dos mais  significantes capítulo da história do Brasil, quiçá do mundo

Segundo o professor Edson, o doutor Edson Bezerra, da Universidade Estadual de Alagoas, diz que “a narrativa alagoana é branca”. “É a cultura de sol e mar – o resto é periferia e Centro. Fora de Ponta Verde e Pajuçara, não existe mais nada. É somente fachada – ‘Xangô rezado alto’, ‘dia da consciência negra’, tudo é deslocado, superficial. Nos ‘200 anos de Maceió’, onde estão as discussões sobre a cidade?”

É preciso dar novos significados à Praça Ganga Zumba, em Cruz das Almas e retomar sua vocação de ser um território estruturado para ações  políticas, culturais, populares.

A cidade de Maceió vive uma relação ambígua com a sua  historicidade preta.

Pode ser, Excelência?

 

*Com citações da matéria do jornalista Jorge Barboza – Caderno B-Gazeta de Alagoas