Era por volta do meio-dia do dia 25 de agosto do ano passado. Uma segunda-feira. Christiano Alves passava por um dos cruzamentos do bairro da Gruta de Lourdes para ir a um banco fazer um depósito, quando a motorista de um carro não obedeceu à placa de “pare” e acabou colidindo em sua moto. Prejuízos em vários sentidos. A motocicleta ficou destruída e o fato de não estar segurada, resultou em perdas para empresa proprietária do veículo. Pior que isso foi a situação do condutor: uma semana internado no hospital e mais quatro meses intensos de recuperação, boa parte deles com um colar cervical. Assim como ele, pelo menos outras 23 mil pessoas foram vítimas de acidentes de trânsito em Alagoas em 2014, segundo dados do Departamento Estadual de Trânsito (Detran).
Christiano passou 13 anos de sua vida tendo como meio de transporte a motocicleta. Nesse tempo todo, coleciona três acidentes graves, alguns prejuízos materiais, sustos e avisos sobre os riscos que corria. Hoje está afastado das funções do setor administrativo da empresa onde trabalha e trocou a moto pelo carro. Passado um ano do acidente, ele está de benefício se recuperando das lesões e realizando sessões constantes de fisioterapia.
Os cuidados são justificados. Apenas nesse acidente, ele contou que sofreu fratura no úmero do braço direito, no acrômio - que é uma projeção entre o ombro e a clavícula, no joelho esquerdo e fraturou a coluna cervical em três partes.
Não ter feito seguro é um arrependimento, que não foi repetido com seu carro. O automóvel como ele afirma, será daqui para frente, o seu meio de transporte, independente de agilidade e economia.
“A gente nunca pode dizer nunca ou dessa água não beberei, mas não pretendo andar mais de moto. Quase perdi a vida, escapei e não vale mais a pena. Muitos assaltos, muitos acidentes, as pessoas não respeitam as outras. Então agradeço a Deus por estar vivo e para quem continua desejo boa sorte e se possível, faça o seu seguro”, afirmou.
Após o acidente, Alves ainda deu entrada no Seguro Obrigatório de Danos Pessoais Causados por Veículos Automotores de Vias Terrestres, ou por sua Carga, a Pessoas Transportadas ou Não (DPVAT). Até hoje, recebeu uma quantia abaixo do que é pago em um acidente como o seu, mas recorreu para uma reavaliação do pagamento. O seguro da motorista que causou o acidente cobriu o prejuízo com a motocicleta, mas desde o acidente, ele não foi procurado mais.
"Pelo que sei, ela deveria ter me dado assistência. Na hora do acidente o marido dela foi até o local, mas nunca procuraram saber se estou vivo ou morto", lamenta.
Apesar de Alagoas possuir uma frota de 646. 223 mil motocicletas, pouco mais de 45 mil, 7%, estão seguradas. Mesmo com o alto número de acidentes registrados, roubos e outros danos, os proprietários nem sempre levam esses quesitos em conta e permanecem à mercê da sorte.
Mais da metade das vítimas atendidas ano passado pelo Hospital Geral do Estado (HGE) e pela Unidade de Emergência do Agreste (UE), 60%, eram usuários de motos, pedestres ou ciclistas. Do percentual de vítimas de acidentes fatais, 35% estava em uma motocicleta, segundo o Detran. Só o HGE atendeu 4957 pessoas vítimas de acidentes em 2014.
Órgãos de várias esferas são unânimes ao afirmar que fiscalização e orientação estão sendo grandes aliados na conscientização de motociclistas e outros condutores para os cuidados essenciais para evitar acidentes.
De forma geral, o Detran aponta que as maiores causa dos acidentes envolvendo veículos são a velocidade alta e casos onde o motorista causador do acidente ingeriu álcool. Para reverter esse quadro, ações de fiscalização também aumentaram em todo o Estado com a Lei Seca. Além de punir com rigor motoristas que dirigem sob o efeito de álcool, as ações também conseguem fazer com que haja mais consciência dos perigos de se causar um acidente fatal. Um comparativo entre 2014 e 2015 mostra que subiu em 109% o número de operações realizadas, que hoje já abrangem 18 cidades em Alagoas.
Segundo dados da Polícia Rodoviária Federal (PRF), houve queda no número de acidentes graves e no número de feridos no primeiro semestre de 2015, se comparado ao mesmo período do ano passado. De janeiro a julho deste ano, foram registrados 132 acidentes nas rodovias federais que cortam Alagoas. Destes, 72 foram acidentes graves. No primeiro semestre de 2014 foram registrados 130 acidentes, mas 79 graves. O número de mortes apresentou um aumento. Em 2014 foram 20 mortos e este ano já são 23.
A PRF também vem apertando o cerco aos motoristas irregulares e realiza fiscalizações e ações educativas em vários pontos do Estado. A conscientização a condutores sobre os riscos de conduzir um veículo de forma irregular acontece nas sessões do cinema rodoviário.
“Nesses primeiros sete meses a PRF multou mais de 12 mil condutores por várias irregularidades. Mas além das multas como forma de fiscalização, realizamos o cinema rodoviário, que já atendeu mais de 3 mil motoristas. Ele geralmente é realizado durante as fiscalizações, então enquanto o veículo é averiguado, o motorista é direcionado para assistir aos vídeos educativos e às orientações dos agentes. Com essas ações já conseguimos algumas conquistas, como ver reduzir o número de acidentes, principalmente nos feriados, quando o fluxo é maior”, afirmou a agente Mariana Silveira, assessora de comunicação da PRF.
As rodovias BR-101 e 316 continuam liderando o ranking das estradas onde mais ocorrem acidentes. Nos trechos que cortam as cidades do interior é comum flagrar motocicletas com mais de duas pessoas, o que potencializa o risco de acidentes. “Nas nossas ações sempre orientamos os motociclistas a andar com os equipamentos de segurança, pois eles podem salvar suas vidas. A motocicleta é um veículo frágil e requer mais cuidados. Então o condutor deve ter a consciência de que precisa reduzir a velocidade, andar com faróis acesos, evitar transitar pelos corredores. A atenção precisa ser redobrada”, alerta.
A Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares (Abraciclo) registrou uma queda de – 7,8% de vendas em Alagoas, mas que não representam perdas grandes para o setor. A Associação também se mostra preocupada com a quantidade de acidentes registrados em todo o país e vem desenvolvendo projetos a favor da pilotagem segura que estão sendo ampliadas para mais estados brasileiros.
“Somente neste ano, a entidade promoveu, em apoio ao “Maio Amarelo” uma série de palestras gratuitas sobre segurança no trânsito para alunos de escolas públicas em nível médio em São Bernardo do Campo, ABC Paulista, com apoio a Prefeitura local, com o objetivo de orientar os atuais e futuros motociclistas sobre as técnicas de condução defensiva e os ganhos obtidos com o respeito às normas e regras de trânsito. A Abraciclo pretende avançar com essas iniciativas em outras instituições de ensino, como escolas técnicas e universidades, sempre buscando o contato com o público jovem. Além disso, a entidade está realizando, a 19ª edição do MotoCheck-Up, em Teresina (PI), maior programa setorial de avaliação de motos e conscientização no trânsito da América Latina”, disse ao Cada Minuto.
O aumento significativo da frota de motocicletas em todo Brasil fez também com que a oferta de serviços agregados aos seguros aumentasse. Se antes apenas motos de alta cilindrada atraíam os seguros, agora já é possível encontrar opções para as de potência mais modesta. Mesmo sendo considerado um seguro caro por alguns motoristas, há também outros benefícios, como a possibilidade de agregar outros serviços, como assistência residencial e 24 horas.
Os benefícios existem e são necessários, garantem corretores. Porém a adesão é muito baixa. Se por um lado 90% da frota de automóveis de Alagoas possui seguros, apenas 7% da frota de motocicletas está segurada.
“Infelizmente o número de motos hoje seguradas é baixo e a frota é alta. Porém o risco da moto é maior que o risco do carro, por isso o seguro acaba ficando um pouco mais caro e muitas pessoas acabam deixando de fazer o seguro arriscando a perder o veículo. Mas o proprietário precisa levar em conta o risco tanto com sinistros quanto com sua vida e a de terceiros e segurar seu bem”, afirma Djaildo Almeida, diretor do Sindicato dos Corretores de Alagoas (Sincor).
Se Christiano Alves não possuía seguro, sofreu prejuízos materiais e escapou do pior, o funcionário de um posto de gasolina da capital alagoana, José Carlos, preferiu evitar qualquer tipo de transtorno referente à sua motocicleta ano 2014.
Acostumado a ouvir muitos relatos de assaltos e acidentes, decidiu procurar um corretor de seguros para garantir o seu bem antes que os pequenos tombos que já levou acabassem em um acidente grave ou fatal. Ele conta que teria a opção de pagar R$ 630 pelo seguro anual da sua motocicleta, mas como decidiu dividir em 08 vezes, pagará R$ 740. Nesta categoria de seguro por sinal, os preços variam entre R$ 600 e R$ 1.000 para motocicletas simples.
O seguro adquirido cobre defeitos da moto, direito a guincho em até 200 km de distância, cobre prejuízos de terceiros, além de garantir outra moto, em caso de assalto e perda total em acidente.
No segundo ano de seguro, José Carlos lembra que nunca precisou acionar a corretora, mas afirma que não pretende cancelar a garantia, por dois motivos. “Nem penso nisso (cancelar). Primeiro porque estou garantido em qualquer situação. Caso quebre a moto, um acidente apenas comigo ou com terceiros e segundo, é quase um seguro de vida. Deus me livre, se alguém vier me roubar, eu jamais irei reagir. Vou resguardar a minha vida e o seguro me dará outra moto”, lembrou.
Se não dá para fazer um seguro que cubra 100% acidentes e danos, a opção encontrada pelo motoboy João Luiz para não ficar na mão foi aderir a um serviço até o limite que ele pudesse pagar. Ele contou que já foi assaltado por três vezes e atualmente se recupera de um acidente. Mesmo com medo dos acidentes e dos assaltos não deixa de circular pelos corredores das avenidas de Maceió para levar os clientes aos seus destinos.
“Por três vezes eu perdi motocicletas em assalto. Em todas as vezes, o assaltante fingiu que queria uma corrida e quando cheguei no local ele anunciou o assalto. Tive que ficar no meio termo. Nem 8, nem 80 e fiz um seguro intermediário”, disse.
O seguro que João Luiz chama de intermediário cobre apenas o próprio bem. Ou seja, em caso de defeito da moto, acidente, o seguro cobre o prejuízo, mas deixa o segurado descoberto em caso de acidente com terceiros e também em situações de assalto.
Por esse seguro, ele afirmou pagar R$ 35,00 por mês. Mas, é possível encontrar planos similares por até R$ 15,00, que atendem apenas para troca de peças da moto.
Djaildo também alerta para um detalhe que por vezes acaba passando despercebido pelos motociclistas, mas que no fim irá causar dor de cabeça: eles podem ser responsabilizados e ter que arcar com os custos do veículo de terceiros caso sejam os responsáveis pelo acidente.
“O seguro de moto além da garantia do patrimônio existe a responsabilidade civil. Quando existe uma colisão independente dos envolvidos, o culpado tem a responsabilidade de reparar o dano do terceiro. Se ele possui seguro, a seguradora cobre o sinistro até o valor segurado pelo cliente. Mesmo com o custo alto, que leva em conta vários itens, o motociclista deve observar o risco e a responsabilidade sobre acidentes. Tem que pensar no próximo, analisar os riscos.”, coloca.
O Sincor, alerta que independente do preço, o cliente deve investigar a procedência tanto de corretores quanto de seguradoras e evitar cair em golpes de empresas de fachada, que ao invés de garantir tranquilidade aos clientes, podem criar sérios problemas. No site da Superintendência Nacional de Seguros (Susep) e do próprio Sincor as pessoas podem checar as informações e certificar que estão depositando confiança e dinheiro em pessoas e empresas autorizadas.
“O corretor expõe argumentos importantes ao cliente na hora de adquirir um seguro, mostrando que além de cobrir sinistros no veículo, há também assistência 24 horas se o cara precisar trocar um pneu. Pode ter assistência residencial conjunta. É um produto que engloba muitos serviços. É preciso pensar na segurança, na garantia do patrimônio, pensar no próximo e analisar os riscos”, finaliza Djaildo.
*É colaborador