A Tainá tem 8 anos, é uma menina negra de pele clara, mora no município de Rio Largo, em Alagoas.
Apesar dos 8 anos, Tainá, a menina negra, já traz n’ alma histórias de dores ancestrais.E é interprete do racismo velado, naturalizado, prioritariamente, menosprezado pelos poderes vigentes.
A Roda de Conversa Racismo, Aqui, não! foi uma atividade organizada pelo jovens do movimento TODOS1RL, em co-parceria com do Instituto Raízes de Áfricas, na noite da sexta-feira, 21/08, em Rio Largo, .
Durante o debate lançamos a pergunta para saber se alguém da Roda de Conversa já tinha sofrido racismo,daí uma meninazinha preta se levantou e com a voz atravessada pelo tremor e a dor ancetralmente encravada ,que a seguirá pela vida afora, fez a declaração emocionada: “Uma menina branca da minha escola disse que não pode ser minha amiga porque sou negra.’
Muitos segundos de silêncio fizeram explosão de indignação entre participantes da Roda , após o desabafo da menina, que ainda na infância cultiva dores adultas.
Dores que nós negr@s, sabemos. Faz muito!
Mas, o intuito não é falar em dores, Excelência, e sim em políticas públicas.
O Racismo contemporâneo é estrutural na sociedade alagoana, e traduz sua perversidade, .com palavras e gestos que desqualificam, apelidos que depreciam, pseudo-brincadeiras que tanto causam mal-estar, ações que apartam , racismo que precisa ser combatido com políticas eficazes e eficientes.
Ao fazer essa assertiva em relações às políticas afirmativamente públicas, nos reportamos a Conferência Internacional da ONU, realizada em Durban (África do Sul),2001, na qual o Brasil( Alagoas é um dos estados da federação, berço sagrado do Quilombo dos Palmares e enviou uma comitiva) endossou a Carta de Durban e as resoluções objetivando o enfrentamento ao Racismo em todas as suas formas, com políticas afirmativas.
Quando os governos não assumem posições assertivas, conseqüentemente, permitem a materialidade do crime de racismo, que se faz camaleão.
Seu governo, Excelência, é permissivo em relação ao crime de lesa-humanidades, o racismo.
O racismo que subestima, menospreza, inferioriza as gentes pertencentes ao grupo de negros e negras, african@s na Diáspora.
E estamos bem mais além do vitimismo, Excelência;
E aqui, não nos cabe culpabilizar essa ou aquela secretaria de Estado, pois entendemos que o enfrentamento ao racismo deve - necessariamente- se constituir em política de estado com a estrutura, expertise e a vontade política, macro..
Faz 12 anos que a Lei Federal 10.639 que altera a LDB tornando obrigatório o ensino da História da África e dos negros(as) em África e no Brasil, foi sancionada e- acredite, Excelência, em tempos idos Alagoas foi referenciada pelo Ministério da Educação, como exemplo, na implementação da Lei nº 10.639/03.
A Lei Federal é fundamentada no fortalecimento da história negra revisitada e busca empoderar pret@s e despertar entre os branc@s a consciência negra, nas escolas.
O seu governo, Excelência, ainda não questionou o genocídio e a guetização da juventude negra alagoana ( indubitavelmente somos o estado que mais mata jovens negros. No Brasil).
O seu governo, Excelência, passa amiúde de todas as questões significativas que envolvem uma política de estado e negra da terra de Zumbi.
E, como militante desejamos, que Vossa Excelência possa, pessoalmente, abraçar a linda Tainá e dizer-lhe que, como gestor singular do estado de Alagoas tomará medidas estruturais ( envolve todas as secretarias) para que o racismo não interfira- tão cruelmente- nas possibilidades afirmativas do povo negro e não macule sonhos infantis, como os de Tainá.
A hora é chegada, Excelência, para que Alagoas passe das idéias/palavras/discursos afro-libertárias para o campo de ação..
Tainá, a menina preta, e tantas outras crianças estão a espera.
Ainda demora, Excelência?