No domingo, 14 de junho, a menina candomblecista, Kaylane Campos, de 11 anos, foi apedrejada na cabeça, por dois homens, após a saída do culto, na Vila da Penha, no Subúrbio do Rio.
Ao jogarem a pedra os homens utilizando a bíblia, como objeto de intolerância, chamou o grupo que acompanhava a menina de ‘diabo’, ‘vai para o inferno’, ‘Jesus está voltando’.
Foi de uma forma sangrenta que a menina Kaylane- literalmente- conheceu um dos exemplos da intolerância que atinge coletividades: “Achei que fosse morrer. Eu sei que vai ser difícil esquecer. Toda vez que fecho os olhos eu vejo tudo de novo. Isso vai ser difícil de tirar da memória”.
A pedra que machucou a menina Kaylane atingiu e feriu muitas e diversas gentes e deu origem a uma grande manifestação, no domingo, 21 de junho, no Rio de Janeiro que mobilizou umbandistas, candomblecistas, evangélicos, católicos, judeus e representantes de diversas outras religiões no Rio de Janeiro.
Centenas de pessoas vestidas de branco se reuniram para protestar contra a intolerância religiosa.
Na quarta-feira, 17/06 o Templo Abaçá Airá Obá- um espaço sagrado- foi violado, numa versão modernosa do Quebra de 1912, durante a remoção dos moradores da Vila dos Pescadores, no bairro de Jaraguá, em Maceió,AL..
O Quebra de 1912 consistiu na destruição de todas as casas de culto afro-brasileiro existentes na capital, Maceió. Terreiros foram invadidos e objetos sagrados foram retirados e queimados em praça pública; pais e mães de santo foram espancados publicamente.
Por ser um templo religioso e possuir todos os documentos de ocupação, concedidos pela União e autorização de diversos órgãos para o funcionamento, a Casa de Mãe Vitória, não poderia ser removida, mas foi.
Quando os “homens da lei” chegaram para a remoção Mãe Vitória resistiu: "Meu santo eu não levanto daqui." E os policiais forçam a entrada: "Se você não tirar, vai ser tirado de qualquer jeito."
E na sequência, um funcionário da Prefeitura grita algo como: "O único santo é Deus."
O Templo Abaçá Airá Obá sofreu aniquilamento público, apedrejado pelo racismo institucional e, inexplicavelmente, a desocupação e as lágrimas de humilhação vertidas por Mãe Vitória, em Maceió, AL foram segregadas nos guetos da invisibilidade social, sem ecos audíveis em seu território de pertencimento, a religiosidade de matriz africana.
As vozes se calam e o silêncio impera em mais uma Operação Xangô!
O caso de Mãe Vitória, em Alagoas, não mobilizou ninguém?