O Seminário Adolescente em Ação: "Em Prol do Direito de Participar e Decidir" realizado pela Federação de Instituições Beneficentes do Rio e tendo como objetivo debater sobre letalidade com adolescentes e jovens dos estados brasileiros, aconteceu nos dias 10 e 11 de abril, na sede do Projeto ViraVida ( mantido pelo Federação das Indústrias do Estado de Alagoas), localizado no bairro do Trapiche, em Maceió, AL.
Os sujeitos de direito foram adolescentes e jovens atendidos pelo Projeto ViraVida e socioeducandas da Unidade de Internação Feminina de Alagoas.
Recebemos convite para participação- como observadora- do jovem Elias Lourenço da Rede Desabafo Social, e lá estivemos no registrar reflexões e a profundeza de alguns dos depoimentos dos cerca de 67 jovens presentes.
Nenhum signatário do Governo de Alagoas esteve presente.
Seminários são lugares de escuta e aprendizagens para a partir das experiências estabelecer perspectivas e caminhos institucionais.
Nas oficinas sobre Tortura em Espaços de Privação de Liberdade, Mídia e Direitos Humanos e Racismo e Violência Policial os meninas e meninos dissecaram suas experiências. Falaram sobre o ser jovem pobre , preto e morador@ das periferias, grotas, grotões, quebradas em Alagoas: “Éramos cinco pessoas e eu era a única mulher do grupo. Estávamos em nosso bairro, o Clima Bom, em um final de semana quando uma dupla de PM nos abordou e revistou um a um. Como eu era menor e mulher, disse ao PM que ele não podia me revistar porque ele era homem e daí me perguntou se eu estava escondendo alguma coisa. Tornei a dizer que, como eu era mulher a norma era ser revistada por outra mulher e o PM muito arrogante respondeu:- Bandido é tudo a mesma coisa. E aí eu respondi:- Então você vai ter que falar com meu pai, para explicar porque eu sou bandida, pois ele é um policial igual a você."
E outro atropelando o medo de quebrar o silêncio contou:- “Vi uma cena: Estava eu e meu amigo conversando na minha rua, aí passou um homem correndo e policiais atrás. E só ouvimos os tiros. Mataram o homem. E aí a gente ouviu um pedaço da conversa:- É mais não era esse o sujeito, que a gente estava caçando-disse um policial. O outro:- Tem nada não, eu já queria mesmo pegar esse neguinho.”
E surge mais um depoimento: “Muitos dos meus companheiros já foram mortos e eu fico pensando que tive uma oportunidade. Aqui é o melhor lugar do mundo, mas tenho muito medo de policiais. Eles não gostam de gente como a gente."
Como assim?- pergunto: Gente das grotas, favelas, pobre e preta. De preferência homem. Eles pensam que a gente é praga ruim. “A polícia chega batendo e o traficante protege.”
E outro se adianta em dizer: “O menino de 6 anos viu a mãe, pai e o irmão pequeno morrerem metralhados.Como é que você acha que vai ficar a cabeça dele?"
Segundo uma das adolescentes “presa” ( foi o termo usado por ela) – nos últimos dois anos não há muita diferença entre o sistema prisional e a ressocialização.
A moça disse:- Sim, eu errei, mas paguei por isso. Essa moça- que sairá daqui a pouco da prisão onde vive- diz que o aprisionamento a fez tornar-se forte, mas sabe que o mundo aqui fora e a corrente do preconceito freará seus passos.
- Agora quero viver minha vida e meu grande sonho é fazer uma Universidade na Argentina- afirma.
Hoje- segundo ela, os espaços para ressocializar jovens infratores são verdadeiros depósitos de adolescentes. Faltam programas que acompanhem a gente – egress@s- após a ressocialização. A gente errou, mas não precisa ser condenado pelo resto da vida. Eu-por exemplo-quero ter uma vida melhor, pensar no futuro, mas é muito difícil. Muito!
Muit@s de nós- vai sair e voltar para o bairro de origem, onde o crime dá as ordens.
Onde o estado se ausenta....
E fomos ouvir o Governo Federal: “Infelizmente diversos governos estaduais devolvem recursos sem executar as ações em áreas muito importantes. Como foi o caso de Alagoas nos últimos anos”.
Interessa ao estado de Alagoas estruturar lugares de educação- como política de estado- que promovam a verdadeira ressocialização dest@s adolescentes, tal como determina o Estatuto da Criança e do Adolescente que este ano completa 25 anos, Excelência?
Interessa, governador Renan Filho?!