O jornal Unifesp Livre escreve sobre as muitas silenciosas e silenciadas que acontecem na Universidade Federal de São Paulo, em outras universidades e nos muitos recantos do Brasil, do mundo, do universo.O suicídio carece entrar em debate como problema de saúde pública?
O jornal Unifesp Livre vem a público lamentar o falecimento do estudante Thiago José Aparecido Cerqueira, graduando do curso de Filosofia. Thiago Cerqueira faleceu no dia 22 de março e foi enterrado no dia 23, no Cemitério da Vila Rio de Janeiro, em Guarulhos, na presença de dezenas de parentes, amigos, vizinhos, colegas de faculdade e companheiros de luta. Nesse momento de dor e sofrimento manifestamos nossos sentimentos e prestamos condolências a todos que eram próximos dele.
Para nós do jornal Unifesp Livre, o Thiago Cerqueira sempre foi um companheiro de luta. Por isso, vale destacar sua participação nas lutas estudantis da universidade. Como na greve de 2012, quando ele nem mesmo era aluno da instituição. Na sua defesa de que a EFLCH permanecesse no bairro dos Pimentas. Além de sua participação na luta contra os despejos no Sítio São Francisco (Pimentas), bairro onde morava.
Esse é um momento de dor, no entanto, não podemos deixar de fazer uma reflexão. O estudante Thiago se suicidou e esse é o terceiro caso que acontece envolvendo estudantes da Unifesp em menos de 24 meses. Antes dele houve a perda de Luiz Carlos Oliveira, em dezembro de 2012 e de Tilene Carneiro, em agosto de 2014. Há ainda dois casos não confirmados nesse mesmo período: o de uma estudante de Ciências Sociais e de um estudante de História da Arte.
Somente esse fato já indicaria que estamos diante de um problema social da maior gravidade. A questão de que os três casos que conhecemos envolvam alunos negros, na sua maioria pobres e por serem todos integrantes do movimento estudantil da universidade nos alerta ainda mais para isso. Segundo pesquisas, para cada suicídio há uma estimativa de pelo menos 10 tentativas frustradas.
Há anos esse jornal denúncia a existência de uma “epidemia” de depressão na Unifesp e associa isso ao clima de repressão, péssimas condições de ensino, política higienista contra estudantes pobres e outros fatores internos e externos à instituição. Passou da hora dos responsáveis pela administração universitária fingirem que isso não existe. Em nota sobre o falecimento de Thiago, a Unifesp dedica uma única frase para se solidarizar com os parentes e amigos. Fecharam os ouvidos para os alertas diante da morte de Luiz Carlos. Fizeram o mesmo com Tilene Carneiro, quando sequer divulgaram uma nota de pesar. E tudo indica que as coisas permanecerão iguais. Até quando?
Diante dessa situação, o jornal Unifesp Livre propõe um amplo debate sobre o tema como meio de prevenir que outros jovens tenham suas vidas interrompidas de forma tão brutal. Abriremos espaço em nosso blog e em nosso jornal impresso para quem quiser debater o problema. E chamamos a comunidade universitária a tomar parte desse assunto que é de interesse público, pois o suicídio possivelmente se tornou a maior causa de morte entre os estudantes da EFLCH.
Companheiro Thiago, presente!
Fonte: http://unifesplivre.org.br/2015/03/24/nota-de-pesar-2/