As casas rudimentares germinam por todos os lados, em caminhos de traçados sinuosos, e ruas nuas de asfalto. As casas brotam feito trepadeiras penduradas em espaços reduzidíssimos. Não é fácil chegar até lá. Íngremes ladeiras tem de ser vencidas na sequencia. E o difícil acesso dificulta, mais ainda, a vida de quem tem limites físicos.
O povo- na sua grande maioria preto- desbrava- um dia após outro a imensidão da falta de infraestrutura de sobrevivência. Sem zonas de conforto.
Olhando para o alto percebe-se que o céu ganha mais azul e essa intensidade funciona como lembrete de que: “Mas é preciso ter força. É preciso ter raça. É preciso ter gana(...) como nos diz Milton Nascimento.
Um povo que parece frágil, mas, ao mesmo tempo é muito forte.
Assim é a Vila Moisés, localizada na Estrada das Barreiras, no bairro Cabula, uma periferia distante de Salvador, na Bahia de Todos os Santos.
Foi no sábado, 7 de março, quando o ar do Cabula se vestiu com o Tributo a Negro Blul e aos Jovens Executados na Vila Moisés, articulado pela Campanha Reaja Ou Será Morto! Reaja ou Será Mort@!
Doutora Andreia Beatriz Silva Santos do REAJA fez as honras da casa.
Teve Sarau Cultural, palavras pretas rasgando indiferenças alheias.
Gente de coração inflado bem mais além do colonialismo expresso nas ações institucionais.
Teve menino. Teve mulher. Teve homem, velh@s e moç@s.
Moç@s carregando tristezas antigas.
Teve juiz vestindo sua toga, representantes do Ministério Público, padres, pastores, representantes da matriz africana.
Teve muita gente preta, militantes de tudo quanto é canto.
Gente da Bahia de Todos os Santos, das Alagoas, de Palmares (Instituto Raízes de Áfricas e Juventude Negra Independente de Alagoas-presentes), São Paulo, Minas Gerais, Paraná, Rio de Janeiro, Brasília e lá se estava o Brasil divulgando a conversa-luta do Reaja.
Teve arte, música, discursos e a declamação emocionada do tenaz Hamilton Borges Onirê.
A partir da Campanha Reaja Ou Será Morto! Reaja ou Será Mort@!, o tamanho da ação-consciência vem crescendo. Vai tomando o tamanho de um continente.
O REAJA transformou a ação de um sofrimento comum a tant@s e muit@s, em múltiplas e diversas vozes, que ecoam além das paredes encharcadas de choro e sangue.
Não há metáforas por trás das mortes escritas. É tudo baseado em fatos reais.
A história da Vila Moisés é a de tantos e muitos meninos pretos que não terão futuro- fala a auxiliar de enfermagem Maria de Fátima da Silva, mãe do dançarino Douglas Rafael da Silva Pereira, o DG, que trabalhava no "Esquenta! Morto pela Polícia, em abril de 2014, na comunidade Pavão-Pavãozinho, Rio de Janeiro.
A história de Vila Moisés, localizada na Estrada das Barreiras, no bairro Cabula, uma periferia distante de Salvador, na Bahia de Todos os Santos é feito um mapa de nomes, datas e silêncios sociais.
O silêncio é desafiador.
Cabula vive!