E o sociólogo Ivair Augusto Alves dos Santos escreve, com maestria:

Assistir à posse dos Governadores dos Estados brasileiros dá uma dimensão de que, com raríssimas situações a invisibilidade dos negros é absoluta. Não há negros como Secretários, como juízes, comandantes, deputados.

Onde estão os negros? Perguntou Jean Paul Sartre quando visitou o Brasil, em 1960, em companhia de Simone Beauvoir. O casal atendeu a um convite feito pelo escritor Jorge Amado, para que viessem conhecer o Brasil.

Em uma crônica cujo título é Onde estão os negros brasileiros ? , Nelson Rodrigues relata a visita de Jean Paul Sartre ao Rio de Janeiro.

Nelson conta que Sartre e Simone de Beauvoir foram recepcionados num apartamento em que a dona da casa ofereceu-lhes uma tigela de jabuticabas.

Olhava para os presentes como quem diz: “Que cretinos!  Que imbecis!”  Em dado momento vem a dona da casa oferecer-lhe uma tigelinha de jabuticabas.  O Sartre pôs-se a comê-las.  Mas, coisa curiosa.  Ele as comia com certo tédio (não estava longe de achá-las também cretinas, também imbecis).  Até que, na vigésima jabuticaba, para um momento e faz, com certa irritação, a pergunta: “E os negros?  Onde estão os negros?”

A pergunta era curiosa e mostrava um certo espanto pois desde que tinha chegado tinha falado para públicos exclusivamente brancos. Nelson Rodrigues, em sua crônica, registra ainda o seguinte:

“O Gênio não vira, nas suas conferências, um mísero crioulo. Só louro, só olho azul e, na melhor das hipóteses, moreno de praia. Eis Sartre posto diante do óbvio. Repetia, depois de cuspir o caroço da jabuticaba: “Onde estão os negros?” Na janela um brasileiro cochichou para outro brasileiro: “Estão por aí assaltando algum chofer.”

Olhar para a posse dos Governadores pela televisão e ver homens e mulheres brancos, vestidos de ternos escuros e roupas de elegância duvidosa, a pergunta ecoa: Onde estão os Negros?

Eles, os donos das festas, não ficam nem constrangidos por fazer uma festa onde os negros não são convidados. Parece normal que o poder seja sempre branco e que não há com que se incomodar. As festas não são públicas, são privadas, com letreiros gritantes invisíveis – dizendo o que disse o professor da Ufes, em 2014:

“Entre um médico negro e um branco, eu escolheria ser tratado por um branco”.

A deputada Benedita da Silva conta que, no período em que a África do Sul viveu o apartheid, o Brasil tinha exemplos mais sutis de segregação:

“Não havia placas restringindo negros de frequentarem locais públicos, mas os brancos não sentavam ao nosso lado no ônibus”, recorda.

Não há o que se lamentar, mas há que se gritar bem alto e lutar muito em 2015 contra a branquidão que nos sufoca.