Ele tinha 14 meses quando foi abandonado na rodoviária de Brasília. Nascido e criado nas ruas do DF e Entorno, ajudava a mãe a pedir auxílio nas ruas para sobreviver. A senhora até queimou o olho do menino para provocar a compaixão das pessoas, e com isso ter um dinheiro a mais.
Hoje o jovem usa lágrima artificial para lubrificar o olho ferido.
Aos 2 anos foi adotado por outra família e poucos meses depois foi novamente foi abandonado.
Ficou –durante 10 anos- sobre a guarda de um abrigo. O abrigo não era um lugar bom- percebia o menino.
Aos 12 fugiu para conhecer a liberdade das ruas. E descobriu a selva da maldade humana. Inúmeras vezes quase fora abusado sexualmente, e uma delas jogado da ponte JK. Por policiais.
Dormia aqui e ali, mais constantemente na rodoviária. O administrador mandava sair, mas, sempre retornava. Sem família, sem casa, sem destino. Ir para onde?
Começou a roubar e por conta da fome e da solidão de pessoas que o apoiassem, entrou no mundo do crime. Na solidão das ruas, as drogas eram companheiras fiéis. Na época de chuva cheirava muita cola para passar o frio e a fome- conta o rapaz falante.
Um dia descobriu a influência do rap e ouviu a voz da ancestralidade: resiliência.
E novamente , o jovem toma a palavra:- O Rap me falou que posso ser visível e que sou alguém. Com influencia de Facção Central, Racionais Mcs, Inquérito, Aborígine, GOG e Criolo começou a escrever suas primeiras letras.
Fala o jovem:- Tornei-me compositor e rapper. Passei a contar minha história através da música. O primeiro show que fiz foi assistido por mais de 2 mil pessoas. Saí das drogas.
E continua: -Quando vejo um monte de negr@s reunidos compartilho dessa força, pois, quando morava na rua lembro-sempre-de que vinha pedir uns trocados nas mesas e hoje partilho das discussões. A essência da negritude marcou minha concepção de mundo.
Visito as escolas, ministro oficinas de Literatura Marginal ( RAP ) e palestras sobre música. Levo para as escolas o debate sobre política, igualdade social, e racial.
Sou ativista social Sou juventude negra!
E a conversa continua: - Tenho uma filha de 2 anos, minha namorada que amo muito. São minha família.
Em 2009, Neemias Silva Damasceno , o Mc Neemias Mc, com seu primeiro Rap "Sonho de uma Criança”, tornou-se visível no cenário do Hip Hop
Já fez vários show, ao lados de artistas consagrados, como Aborigine, LFDAT, Suburbanos.
Finalizando a conversa, Mc Neemias afirma: E olhando para trás posso afirmar, com toda convicção d’alma: O Rap salvou a minha vida. O Rap foi os pais que não tive.