Era uma terça-feira de novembro e marcava o primeiro voo da  moça alagoana quase-preta, em viagem de férias a terra natal. Portava dois meninos pela mão, seus filhos. Achegou-se um tanto apreensiva:- Onde é que pego o avião para Maceió?

Indiquei o acesso e informei:- É ali, no portão 22.

Informada a  moça quase-preta sentou na sala de espera do aeroporto de Brasília e puxou conversa:- Onde fica o sanitário?

Novamente informei-lhe o caminho e ela inquisitiva:- Paga alguma coisa? Disse-lhe que não. Aliviada encaminhou-se ao sanitário.

Depois das devidas necessidades  a moça retornou falante , no contar sua história de migrante nordestina.

32 anos, nascida e criada em Maceió, capital das Alagoas. Faz dois anos -diante da miséria que ameaçava estrangular os sonhos- ( Vidas Secas!)- resolveu tentar a sorte em outro lugar e de malas, cuias e família a tiracolo desembarcou no município de  Lucas do Rio Verde, a 360 quilômetros de Cuiabá- Mato Grosso.

- Lá tem tanto nordestino que a gente chama o lugar  de Mato Grosso do Nordeste- diz ela e continua: - Eu e meu marido arrumamos emprego em uma fábrica de produção de alimentos frigoríficos. Sou desossadeira. Tenho plano de saúde, creche para meus filhos e vivo sem medo.

Pergunto-lhe se - um dia- não  pretende voltar a morar em Maceió,AL e ela, fazendo o sinal da cruz:- Deus me livre. Fazer o que, lá?

E continua:- No Mato Grosso meus filhos tem escola decente, e se por acaso elas faltam dois dias na escola,  o Conselho Tutelar bate na porta da gente para saber o que está acontecendo.E, além disso, em Maceió a educação é muito ruim, as escolas mais ainda e por falta de oportunidades  meus filhos podem se tornar marginais.Para que voltar para Maceió, pergunta- um tanto exaltada e arremata, decisiva:- Maceió não dá futuro pra ninguém!

 Disse a moça  alagoana quase preta que viajava de avião pela primeira vez.