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Após uma semana da II Marcha contra o Genocídio da População Negra, que aconteceu em 22 de agosto em que pelo menos 50 mil pessoas foram as ruas de várias capitais e cidades do país, o principal organizador das manifestações, Hamilton Borges dos Santos, Walê, 47 anos, denunciou que está sendo perseguido pela Polícia e disse temer pela própria vida.

Hamilton, que é coordenador da "Campanha Reaja ou Será Morto. Reaja ou Será Morta”, responsável pela denúncia da morte de jovens negros vítimas da violência policial em Salvador, contou ter sido abordado em uma  quarta-feira (27/08) pelo tenente coronel Valter Souza Menezes, comandante do 18º Batalhão do Pelourinho.

O militar, que estava acompanhado de oito policiais, todos fardados, segundo o relato do ativista, o esperou na porta da Sorveteria Cubana e teria recomendando que ele “deveria tomar cuidado com quem fala no carro de som da Marcha”, "que era amigo de João Jorge, do Olodum [João Jorge Rodrigues, presidente do Grupo Olodum], de Alaíde do Feijão [quituteira tradicional da Bahia] e filho de santo da Casa Branca [terreiro tradicional de Salvador] e que não era racista”.

“A Polícia sai da comunidade, são pessoas como vocês, maioria negra. Os bons policiais não podem pagar por quem faz coisa errada”, teria dito o militar, sempre segundo palavras do ativista, que estava acompanhado pela coordenadora de comunicação da Marcha e integrante do Conselho de Mulheres, de quem só revelou as iniciais – J.S.S. – “por razões de segurança”.

Intimidação

Hamilton disse ter considerado a abordagem “um flagrante ato de intimidação” e cobrou providências do Ministério Público, da Secretaria da Justiça, da Defensoria Pública do Estado, e uma posição do governador Jacques Wagner.

“Diante da onda de terror e mortes de militantes que lutam contra uma segurança pública no Estado racista, opressora e violenta, tememos por nossas vidas, integridade física e liberdade de expressão e manifestação”, afirmou.

Ofensas

Hamilton disse ainda que o militar queixou-se de que a Polícia teria sido ofendida durante as falas no caminhão de som da Marcha. O tenente teria queixado, especialmente, de alguém que teria anunciado que iria jogar capoeira com a Polícia e que "se ela vier de lá, vai de cá”, o que foi considerado uma insinuação e ameaça de revanche.

Questionado sobre o que pretendia, o comandante disse que a corporação poderia representar ao Ministério Público contra os organizadores da Marcha por ofensa à instituição.  “Tratou-se de um flagrante ato de intimidação e ameaça”, resumiu Walé.

Ele contou que, no ano passado, sua casa foi visitada após às 23h, por policiais militares que alegaram ter recebido uma denúncia anônima, e que também na cidade de Teodoro Sampaio, no interior da Bahia, jovens foram abordados por policiais com armas em punho e tiveram que deitar no chão e retirar as camisas com o símbolo da campanha, sob o argumento da Polícia de que se tratava de “camisa de bandido”.

“A Campanha Reaja não vai ceder a intimidações ou qualquer tipo de ameaça, mais teme por seus militantes nas comunidades onde atua, teme por seus militantes anônimos, militantes que podem sofrer todo tipo de abuso a qualquer momento. Se o comandante tem algo a falar, que seja dito publicamente diante das instituições de direitos e não de forma ilegal, abordando e intimidando as pessoas na rua em tom de ameaça. Lembramos aqui que é esta prática de intimidação que a "Campanha Reaja" vem denunciando e lutando contra", reiterou.

 

Fonte: Da Redação da Afropress