O racismo sob as lentes do africano Vagner Bijagó , residente nas terras de Zumbi, Alagoas. Vai lendo:
Comentários e Comentaristas da Rede Globo nos Jogos que envolvem as Seleções Africanas: entre a ingenuidade e a ignorância convicta.
Gostaria com este pequeno texto, desnaturalizar, evidenciar o discurso assimétrico que o referido meio de comunicação lança mão para classificar verticalmente e eurocêntricamente as seleções africanas. Esta forma de enxergar as seleções africanas parece denunciar e comprovar aquilo que Kabengele Munanga chama duma engenharia perfeito quando o assunto é o "Racismo à Brasileira".
Com efeito, assistimos a homogeneização dos países africanos, ora tratados pelos seus nomes, (Ghana, Nigéria, Camarões e Argélia) ora como tão somente seleção africana. Isso ocorre de modo corriqueiro e de forma intercambiável. Aqui poderia citar vários exemplos a título de substancializar o argumento, mas por se tratar dum evento ainda em andamento, suponho que em alguma medida ainda estamos com estas impressões a ribalta. Mas, por estar ciente que muitas vezes somos interpelados por evidências, farei questão de trazer algumas: como por exemplo: 1°) a vitória de Costa do Marfim sobre o Japão foi tratada pelos comentaristas como Zebra. Ora, qualquer pessoa lúcida que acompanha minimamente o Futebol saberá que a Costa do Marfim é superior que a do Japão, a começar pela qualidade técnica dos seus jogadores e nas equipes que jogam, logo se configura estranho e destoante classificá-la como Zebra.
2°) O empate de Alemanha com a Ghana foi tratado pelos comentaristas como um desempenho razoável à atuação da Alemanha, e não um mérito da seleção ghanesa, que chegou a estar a frente no placar. Uma seleção regular cuja boa parte dos jogadores atuam nas grandes equipes europeias. E por que não se evidencia esta verdade?!
3°) Esta última evidencia tem haver com a forma diferenciada com que os comentaristas aludiam a seleção de Argélia, estes não são tratadas como seleção africana, tal qual acontece com as outras seleções da África presente na Copa. Curiosamente os argelinos são percebidos como os do norte da África, o que deixa confuso e ambivalente a sua caracterização geográfica e identitária. Esta ambivalência parece sintonizar-se com aquilo que o Presidente Lula, chamaria do Síndrome de Viralata. A questão mal resolvida da identidade brasileira, algo que nos remete a discussões pra lá do séc XIX sobre a identidade nacional. No entanto, esta minha observação, não percebe esta racionalidade da elite brasileira como pertencente a todos os brasileiros. Se isso é verdade, logo se faz necessário uma política de equidade e de descriminação positiva em diversos âmbitos, inclusive e, sobretudo, nos tempos da Copa.
Fonte: https://www.facebook.com/vagner.bijago?fref=ufi