A mãe do menino me chegou com os olhos inchados pelo peso da vida. Chorara.
Queria conversar comigo, pois dissera que "mexo" com essas coisas de negro.
Tem a pele preta e sofridamente pobre, a mulher que me fala. Mora em uma periferia distante das políticas públicas. Fala com o discurso da vida atravessado na garganta.
Mãe solteira criou o filho sozinha. E não foi fácil, sem ninguém para ajudar. Família distante e o pai da criança recusara- ostensivamente—a paternidade, e se fora por esse mundo de meu Deus.
Ainda era nova - a mulher que agora me fala- quando engravidou do menino que está morto.
Morto, sim, me diz ela.
Não era um menino ruim. Tinha essas coisas chatas de todo adolescente, mas me obedecia e me dava a "bença" cada vez que saia de casa. Era só eu e ele- diz a mulher, agora órfã do primeiro, e único filho.
A mãe- órfã do único filho- chora um choro secular de impotência e abandono.
-Disseram por aí que meu filho era perdido. Juro com a senhora que não era, pois eu tinha o cuidado de andar atrás dele, olhava o olho, mexia nas bolsas e nos bolsos para ver se havia algo suspeito- Fala a angústia da mãe.
Um dia me chegou a notícia que a polícia tinha atirado nele.
Fui correndo ver meu filho, quando cheguei lá ele já estava morrendo. Coloquei a cabeça dele no meu colo e vi quando ele disse: Abença, mãe.E morreu.
Meu filho morreu, dona. E agora o que que eu faço?
Eu não disse resposta.Não sabia o que dizer. Como, ainda, não sei.
O menino preto tinha 12 anos.