O bar é numa dessas esquinas festivas no bairro da Lapa, no Rio de Janeiro.
Na sexta a noite, 16 de maio, saímos, eu e Fernanda, pra vivenciar a energia noturna da cidade maravilhosa.
Cidade Maravilhosa cheia de encantos mil...
Uma mesa vazia na porta do bar da esquina convida-nos a sentar e observar o movimento do povo andarilho, pelos caminhos da LAPA, onde morou o negro, pobre e homossexual Madame Satã, personagem emblemático da vida noturna e marginal carioca na primeira metade do século XX..
Na Boa! Como dizem os cariocas. E por lá, nas bandas do Rio, a cerveja Antarctica é paixão quase-nacional.
Ao nos avistar o dono dos estabelecimento sai de detrás do balcão e portando toda aspereza do mundo , fala autoritário:
-Vamos, vamos levantando, vocês não podem ficar aqui, consumindo outros produtos.
(estavamos com uma cerveja em lata e um churrasquinho).
Eu- tentando compreender a mecânica capitalista (???) do homem pergunto-lhe:- Pode trazer uma cerveja, senhor!
E ele rudemente invasivo:- Não, a cerveja daqui -para vocês- é muita cara. A cerveja de vocês é a de depósito.
E eu:- Senhor quanto custa a cerveja?
Ele: Dez reais. E num gesto abrupto fica mexendo na mesa para apressar nossa saída.
A jovem Fernanda que nem teve tempo de sentar, emudece.
O cabra entra recolhendo a cadeira na qual estava sentada.
Espero o homem voltar e pergunto-lhe:- O senhor vai receber fregueses na Copa, não?
E ele:- Sim.
Eu:- Então, o senhor precisa fazer um curso de boas maneiras, um negociante não pode tratar fregueses desses jeito. O senhor é um sujeito grosso e ignorante.
E saímos um tanto anestesiadas com a atitude racista.
O racismo de todos os dias, puro e latente. Além dos campos de futebol,( sim, a taça do racismo é nossa!) da banana, do macaco e da camisa de Luciano Huck.
O racismo dos colonizadores brancos predadores, que ao longo dos anos tem construído monstros incivilizados pelas ruelas inóspitas dessa e de tantas outras cidades maravilhosas.
Um racismo feito substantivo adjetivado.
(Continua)