Sobre oportunismo e bananas

29/04/2014 08:28 - Adrualdo Catão
Por Adrualdo Catão

Numa repetida forma de agressão racista nos estádios, atiraram uma banana em direção a um brasileiro mestiço. Dessa vez, porém, a resposta foi diferente. Ao invés de chorar ou se vestir de vítima, Daniel Alves comeu a banana e tirou onda com o racista. Brilhante.

O racista é um ignorante. E a resposta que ele precisa não está na coerção jurídica (a não ser quando se trata de violência, claro). Quem manifesta racismo é só um idiota e deve ser tratado como tal. Quem joga uma banana em campo não assusta. Não causa indignação. Causa pena. É um sujeito patético.

Mas não tem jeito... A turma que pretende monopolizar o discurso anti-racista precisa da vitimização, e agora encontrou uma forma de desqualificar o episódio.

Descobriu-se que Neymar, junto com uma agência de publicidade, estava preparando uma campanha na Internet a fim de viralizar a hashtag #somostodosmacacos. Aguardavam o episódio ocorrer com o próprio Neymar para lançar a campanha. Tendo ocorrido antes com Dani Alves, viram que o momento era aquele. (Detalhe: que hashtag mais fuleira, meu amigo!)

Pronto. Pense na polêmica! Para completar, o Luciano Huck botou à venda imediatamente uma camiseta com a tal hashtag... Já pensou? Ganhar dinheiro com o racismo?

Em primeiro lugar, sobre Neymar. Eu pergunto: qual o problema de uma campanha contra o racismo? Alguém me explique. Campanhas na Internet precisam surgir espontaneamente? Quem retuitou e curtiu o fez à força? O mérito da campanha é bom ou ruim? Foi meu amigo Rodrigo Leite – que já escreveu aqui neste espaço – quem disse no Twitter: “é a busca pela espontaneidade atávica. A autenticidade imaculada das redes sociais”. Exato.

Quanto drama! Se fizeram uma campanha para ridicularizar racistas eu só tenho a aplaudir os publicitários que a criaram!

Por fim, Luciano Huck. Trata-se, obviamente, de um mau gosto arretado essa camisa... Tipo, na hora da resenha, dizer que é macaco é até engraçado, mas usar camisa dizendo? Eu pergunto: Luciano Huck obrigou alguém a comprar camisa dele? As pessoas que quiserem comprar a camisa estão atrapalhando a vida de alguém? É errado ganhar dinheiro com campanhas contra o racismo? E com campanhas contra o capitalismo? As camisas do Che que a moçada usa são de graça? Eu soube que os vendedores de banana resolveram aumentar os preços... Quanto oportunismo!

Rapaz... Deixa o cara vender. Você compra se quiser... Quanta besteira.

No fundo, penso que isso tudo é um preconceito contra a publicidade. Na verdade, contra o vendedor. Contra a persuasão. A turma tende a achar sempre que o vendedor é um enganador. Um falsário... O cara botou um bem para vender. Aumentou sua possibilidade de adquirir bens SE VOCÊ QUISER. Sob que perspectiva ele fez algo de ruim? Sob que aspecto sua atitude piorou a vida de alguém?

Parafraseando meu amigo Rodrigo Leite, acho que esse preconceito com o vendedor vem da necessidade atávica pela verdade imaculada. Herança de Platão? Isso é papo para outro tipo de texto...

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