Acho que isso é amor, né?

21/02/2014 07:05 - Raízes da África
Por Arísia Barros

Era um casal de idosos pertos, as mãos entrelaçadas aproximavam  os corpos sentados em um banco de ônibus.

O braço do homem abraçava os ombros da mulher, a protegê-la das intempéries do veículo.

O calor incessante fazia a mulher transpirar e o homem  atencioso ,com um lenço de bolso, desses axadrezados que marcam um tempo, uma época, enxugava- delicadamente- a água salobra que  escorria da testa da companheira. A mulher  carinhosamente capturou a mão dele,  levou-a a boca e  beijou-a -demoradamente.

Um  agradecimento mudo que grita todos os detalhes da longa cumplicidade amorosa.

Os muitos e tantos riscos marcam de  tempo-sol e chuva- encontros e caminhos o rosto daquele casal  feito de olhares e silêncios confortáveis.

Durante a viagem no ônibus pela grande Maceió,capital de Alagoas, os olhos do casal se olhavam- insistentemente- despertando os encantamentos de toda uma vida .

Fiz-me expectadora da cena. Observar  os velhos amantes fez o sol despontar n’alma e o interior do veículo ficar apinhado de segredos. O idílio, um namoro-namorado  de duas pessoas experientes. A experiência do amor que foi além dos desgastes cotidianos. Amor  eterno, eu diria.

Superlativo e grandioso.

Permiti-me deixar o ouvido atento para  comungar com a conversa alheia, mas conversavam baixinho na busca de preservar a intimidade acalentada nos muitos anos que caminham lado a lado.

Em uma hora qualquer, no tempo deles, ouviu-se um riso espalhando flores cor de carmim por entre os metálicos corredores do ônibus. A mulher ria e ele fazia o contralto do riso. Acompanhava-a.

Não sei da idade mas faço um calculo curioso  e quase afirmo que já estão na casa dos 80 anos. Oito décadas.

Enquanto  devaneio calculando o tempo, o senhor levanta do banco e na sequência puxa  a cordinha  para anunciar ao motorista que  irão descem no próximo ponto.

Ônibus-devidamente- parado, o senhor primeiro desce e logo depois estende a mão para a companheira e seguem pelas ruas de mãos dadas.

Acho que isso é amor, né?

 

 

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