Vão ver de perto...Pernambuco, Industrialização e Sucesso

10/01/2014 06:00 - Fábio Guedes
Por Fábio Guedes Gomes

No primeiro final de semana de 2014 visitamos os estados de Pernambuco e Paraíba. Ao pernoitar em Recife, dia 04/01, segui para a Paraíba pela BR-101. Ao longo da viagem nos impressionou a quantidade de empreendimentos empresariais sendo levantados, muitos deles de elevado porte.

No retorno, na segunda-feira, preocupamo-nos em parar em cada um desses empreendimentos e verificarmos mais de perto a natureza e especialização das novas fábricas. Viajando, portanto, no sentido João Pessoa-Recife, no KM-15 da BR-101, na parte pernambucana, avistamos a megaestrutura sendo construída para abrigar a nova fábrica da Fiat, no município de Goiana, no meio do canavial. Com um investimento direto de R$ 4 bilhões, com expectativa de alcançar R$ 7 bilhões, se somadas as instalações de novos fornecedores, somente nas obras de construção foram contratados 7 mil trabalhadores. Quando a fábrica começar a operar, a perspectiva é de emprego de 4,5 mil trabalhadores.

Avançando mais um pouco pela BR-101, mais exatamente no KM-36, nos deparamos com a instalação da unidade fabril do grupo Petrópolis, fabricante da famosa cerveja Itaipava. Será a segunda unidade presente no Nordeste, com um investimento de R$ 600 milhões. Quando a fábrica entrar em funcionamento juntamente com seu centro de distribuição, serão criados 1.000 empregos diretos, segundo a diretoria de mercado do Grupo.

Mesmo impressionados com a magnitude desses dois empreendimentos, dentre vários, a surpresa ainda viria pela frente. Resolvemos não continuarmos a viagem pela BR-101 e, chegando no entroncamento do Hospital Dom Helder Câmara, ao norte de Ipojuca, enveredamos pela novíssima rodovia PE-009, batizada de Rota do Atlântico. Depois do Centro de Controle Operacional da Concessionária da rodovia, avistamos a Refinaria de Abreu e Lima. É de surpreender qualquer visitante. A obra de instalação já está em estágio muito avançado (80% de execução) e se observa um emaranhado de tubos, conexões e tanques de armazenamento e esferas etc. Realmente é uma gigante ocupando 630 hectares construída pelo governo federal, através do Ministério de Minas e Energia, orçada em R$ 31,2 bilhões e executada pela Petrobrás e PDVSA (empresa venezuelana). Somente na obra são envolvidos mais de 40 mil trabalhadores.

Vizinha a Refinaria de Abreu e Lima, com um investimento de R$ 2,4 bilhões, conferimos a planta, também em estágio de conclusão, do polo químico-têxtil formado pela Petroquímica Suape e Companhia Integrada Têxtil de Pernambuco. Nele serão produzidas 700 mil toneladas de ácido tereftálico (PTA) por ano, matéria-prima principal para produtos como fios de poliéster, embalagens PET, filmes e outros elementos industriais. Durante sua construção são 20 mil trabalhadores contratados e quando entrar em funcionamento a unidade produtiva absorverá 1,8 mil trabalhadores.

Do lado oposto a refinaria e ao polo químico-têxtil, ao leste, encontram-se mais duas grandes obras que complementam o Complexo de Suape: o Estaleiro Atlântico Sul e a expansão do Porto de Suape.

O Estaleiro Atlântico Sul emprega 8 mil trabalhadores e envolve R$ 1,8 bilhão em investimentos em sua instalação. Com uma carteira para a construção de 22 navios e uma base para plataforma marítima de exploração de petróleo em alto mar (representando US$ 3,5 bilhões), o Estaleiro emprega cerca de 5,2 mil trabalhadores diretos.

O Porto de Suape, em 2013, bateu seu recorde na movimentação de cargas e navios. A movimentação de cargas cresceu 24,5%, alcançando 3,3 milhões de toneladas de mercadorias, e o de navios 2,7%, com 1.029 embarcações atracadas, entre janeiro e setembro daquele ano. A movimentação de contêineres também bateu recorde, com mais de 300 mil TEU’s (unidade equivalente a 20 pés de tamanho) passando pelo porto.  O crescimento do volume de cargas desembarcadas e embarcadas pelo Porto é uma demonstração cabal do sucesso industrial pernambucano.

Assim, o Complexo Industrial-Portuário de Suape tem como eixo central uma estratégia política do Governo Federal em levar adiante projetos industriais no Nordeste do país. Essa estratégia possui três pilares, os polos naval, portuário e petroquímico. Com eles Pernambuco se beneficia do efeito multiplicador de vultosos investimentos e aciona forças centrípetas capazes de fomentar a instalação de dezenas de empresas no estado, entre fábricas e centros de distribuição e logística. Todas com identificação e endereço [http://www.suape.pe.gov.br/company/list.php].

Portanto, o montante total de investimentos na economia pernambucana gira em torno de R$ 50 bilhões com perspectiva na geração de 100 mil postos de trabalho.

O que a experiência de industrialização pernambucana nos serve de lição? Que aspectos são confirmados por esse movimento em nosso estado vizinho? Que condições estruturais se apresentam e suas consequências? Abaixo algumas resumidas considerações.

Primeiramente, a presença do estado central é imprescindível. Desde a participação direta na construção da refinaria passando pelas encomendas de navios e bens de capital ao Estaleiro. Sem o governo federal Pernambuco não estaria, no momento, reavivando sua história industrial.

Segundo, a articulação política do governo pernambucano com o governo federal foi essencial para desengavetar antigos projetos que se encontravam, há décadas, apenas no papel e/ou paralisados. Nesse aspecto, o perfil estrategista do governo pernambucano e a competência da área de planejamento e desenvolvimento econômico foram imprescindíveis.

Terceiro, a capacidade de investimento do estado de Pernambuco, em parceria com o governo federal, possibilitou a construção e reformas da infraestrutura necessária à recepção de grandes empreendimentos. Estradas, viadutos, interligações viárias, saneamento etc. são construídas ou reformadas

Quarto, não podemos desconsiderar que a região metropolitana conta com um PIB, por exemplo, três vezes maior que o de Alagoas, uma população um pouco maior que a nossa e, principalmente, uma mão de obra bem mais preparada e disponível para esse momento de industrialização (são sete novas escolas técnicas federais e cinco novos campus da UFRPE)

Quinto, percebe-se que o estado da Paraíba, pela proximidade de sua capital (90 km), estrada duplicada e qualidade de vida, vem se aproveitando das externalidades econômicas [spillovers positivos] do surto industrial pernambucano. Por exemplo, a distância da fábica Fiat, em Goiana, para João Pessoa é de pouco mais de 50 km. A capital paraibana se integrará rapidamente à metrópole de Recife, principalmente como ambiente de moradia. Elevados edifícios de 40 andares são construídos afastados da orla praieira. Ao longo da BR-101, depois da divisa com Pernambuco, a quantidade de centros de distribuição e logística e novas fábricas de médio porte são resultados desse avanço.

Em resumo, o sucesso da industrialização em Pernambuco deve-se a uma escolha política estratégica do governo federal, competência de articulação política do governo estadual, investimentos em infraestrutura e capacitação de mão de obra. Esse movimento não se explica por estratégias aleatórias de incentivos fiscais, voluntarismo empresarial e preferências territoriais. Os estados do Ceará e Maranhão parecem querer repetir a experiência e já garantiram do Governo Federal a promessa de grandes investimentos estruturantes, conforme declarações da Presidente Dilma Rousseff, em novembro passado [http://www.valor.com.br/brasil/3348524/dilma-confirma-refinaria-da-petrobras-no-ceara]

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