Eram em torno de 15 jovens pardos, quase pretos,vestidos com bermudas, bonés e camisetas e ao entrarem em um Centro de Compras , comumente conhecido como Shopping Center, da capital alagoana foram esquadrinhados por uma enxurrada de conceitos pré-estabelecidos.
Conceitos embalados em preconceitos que se desnudam e expõem o racismo de modo substantivo, em todas as suas cores variações e vozes. Sem retoques.
Conceitos como uma caprichosa arquitetura conceitual que referencia modos, impressões, que rotula gente e impõe a brutalidade opressiva do apartheid: Eles são pretos. Eles são pobres. Eles falam alto. Eles são da periferia. Eles não são tão iguais a gente.
E a máquina social e econômica do racismo demonstrando sua exacerbada desconfiança dos ditos diferentes convocou o aparelhamento do estado- como mecanismo de repressão- Força Nacional e helicóptero da Polícia Militar para expulsar 15 jovens pardos quase pretos do Centro Comercial.
A violência do apartheid não é uma violência simbólica. Ela desagrega, oprime e estigmatiza. Segundo um site local descrevendo o episódio: “A tranquilidade de um grande shopping localizado no bairro de Mangabeiras, em Maceió, quase foi quebrada, nesta sexta-feira (27), pela ação de jovens que tentaram causar baderna no local. Assim que entraram, os cerca de 15 garotos foram retirados pela segurança do centro de compras, segundo a assessoria de comunicação.”
Mesmo sendo um estado geograficamente pequeno ( o segundo menor da federação), e tendo sediado a primeira República Livre e Negra da América Latina, Alagoas é um território forrado com colchas ásperas de um racismo que assusta, espanta, fragmenta e expulsa o povo da cartografia democrática..
Há textos esvaziados na escrita da história de Alagoas. O capítulo que versa sobre resistência negra é literalmente “esquecido”. O povo preto de cá sofre o processo de uma ausência de lugar, jogo dos silêncios sociais, olhares que fingem não vê..
Ainda segundo o site: “Um dos jovens “convidados” a sair do shopping pelos seguranças afirmou à reportagem que foi vítima de preconceito, não fez baderna e estava dentro do centro comercial consumindo. “Só porque estamos vestidos com bermudas e bonés, os seguranças nos expulsam. Eu sou consumidor, comi uma pizza e eles disseram que era para sair porque não havíamos comido nada. Se fosse um playboy, não haveria problema. Quando [o shopping] levar um processo, vai reclamar”, disse um dos adolescentes expulsos do shopping na tarde desta sexta.
Se fosse um playboy haveria problema?
Qual foi mesmo o “crime” dos jovens expulsos?
O racismo em Alagoas continua o mesmo de dezembro a janeiro.
Superlativo, grandioso e silencioso.