O Paradoxo de Solow e os indicadores econômicos de Alagoas

27/12/2013 06:46 - Fábio Guedes
Por Fábio Guedes Gomes

Robert Solow, economista norte-americano filiado ao pensamento neoclássico, foi laureado com o prêmio Nobel de Economia em 1987. Desenvolveu uma análise das causas do crescimento econômico que ficou conhecido como o modelo Solow-Swan, onde reconhecia a combinação importante entre acumulação de capital, mudanças tecnológicas e crescimento da força de trabalho.

Em seu modelo, Solow explica que é necessário o crescimento da poupança per capita para elevar a razão capital-trabalho. O fundamental para o crescimento econômico é fazer crescer a força de trabalho e sua produtividade aliados a incorporação de mais e novos meios de produção, ou seja, o progresso tecnológico deve ser acompanhado da expansão do trabalho.

Entretanto, um aspecto de suas analises merece nossa atenção. Em meio ao furor da chamada Terceira Revolução Tecnológica, quando os Estados Unidos lideravam o processo de inovação e progresso tecnológico, em meados da década de 1980, que resultou no que hoje conhecemos através do uso dos microprocessadores, computadores portáteis, smartphones, ipads etc. Solow cunhou a seguinte expressão: “We see computers everywhere excepts in the productivity statistics” [Vêm-se computadores em toda parte, menos nas estatísticas de produtividade]. Em outros termos, mesmo com o uso disseminado dessas máquinas em todos os setores da economia norte-americana, paradoxalmente esse importante progresso tecnológico não colaborava para aumentar a capacidade de produção do sistema econômico com redução de custos e desperdício de tempo.

Para entender melhor as razões desse paradoxo recomendo a leitura do artigo Tecnologia, Organizações e Produtividade: lições do Paradoxo de Solow, do nosso amigo prof. Francisco Teixeira, da Escola de Administração da UFBA, no endereço http://www.rep.org.br/pdf/82-9.pdf.

Trazendo o tema para nossa realidade, a economia alagoana também parece viver um paradoxo. Evidentemente que não nas mesmas características do Paradoxo de Solow. O Paradoxo Alagoano significa que em todos os discursos oficiais que tratam da trajetória econômica recente da economia do estado, observa-se uma notória propaganda a respeito de um processo de industrialização em andamento, com a chegada de dezenas de empresas, gerando milhares de empregos etc. etc. Fala-se em até 100 mil postos de trabalho abertos na indústria nos últimos sete anos[1]. Entretanto, quando analisamos os dados, sejam eles da produção, emprego ou até mesmo do consumo de energia, não observamos esse movimento com muita clareza. Senão vejamos.

De acordo com dados do Ministério do Trabalho e Emprego, o estoque de empregos formais em Alagoas saltou de 407.937 trabalhadores, em 2007, para 502.432, significando um incremento de 24%. Entretanto, não parece que essa evolução tenha significativa contribuição de uma expansão industrial.

Na indústria de transformação, por exemplo, o estoque de empregos formais, em 2012, foi de 102.888 trabalhadores, apenas 0,1% de crescimento em relação a 2007, quando atingimos 102.755 carteiras assinadas. Em 2011, o patamar alcançou 106.881 trabalhadores, coincidindo com o melhor ano na década de 2000 para a produção e exportação de açúcar do estado, tema já abordado em artigo anterior escrito nesse espaço.

No mesmo período, o estoque de empregos na construção civil saiu de 11.150 trabalhadores para 36.602, um incremento extraordinário de 228%. Nos setores de comércio e serviços houve crescimento de 49% e 46,5%, respectivamente. Somando os trabalhadores formalizados nos dois setores passamos de 136.990, em 2007, para 202.077, em 2012.

A criação de empregos nos subsetores da indústria como metalurgia, madeira e mobiliário, mecânica e material de transporte está muito mais relacionado à expansão da construção civil, consumo de automóveis e ao investimento do governo federal na montagem de plataformas para a Petrobrás, no porto da capital. Mesmo assim não tem sido significativo a ponto de surpreender tanto na observação dos indicadores.

Por outro lado, atividades industriais de maior peso no estado, como o setor químico, alimento, bebidas e álcool etílico, a expansão da oferta de emprego tem aumentado muito na margem (setor químico) ou declinado (setor sucroalcooleiro). A indústria têxtil, infelizmente, vem reduzindo velozmente o número de trabalhadores. Em 2007, tínhamos nessa atividade 1.865 trabalhadores e atualmente contamos com cerca de 1.300, redução, portanto, de 27%.

Portanto, os 100 mil empregos gerados devem-se, principalmente, a expansão das atividades terciárias e à construção civil. Como diversas vezes já apontamos, o desempenho dessas atividades e a instalação de empreendimentos nesses setores explicam-se mais pela dinâmica econômica nacional e regional. Esses setores estão crescendo em toda parte, principalmente no Nordeste na última década

Enfim, observando pelo lado do emprego de trabalhadores com carteira assinada, vivemos um paradoxo. Fala-se muito em industrialização, geração de empregos, vê-se muitas propagandas, mas não encontramos estatísticas suficientes confirmando esse processo. 

 

[1] Conferir notícia em um blog de prestigiado comentador econômico do estado http://edivaldojunior.com.br/2013/12/26/inauguracoes-de-fabricas-marcam-o-desenvolvimento-industrial-em-2013/

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