Aparências e Evidências no Crescimento do PIB Alagoano

21/12/2013 10:35 - Fábio Guedes
Por Fábio Guedes Gomes

(Artigo publicado originalmente no CadaMinuto Press 29-05/11/2013)

As Contas Regionais 2011 foram divulgadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e com elas os gestores públicos, acadêmicos, centros de pesquisa e a imprensa podem fazer análises, avaliações e construir cenários e tendências econômicas para os próximos anos. 

A economia brasileira em 2011 cresceu 2,7%, um resultado muito razoável, considerando que em 2010 foi excepcional, quando o Produto Interno Bruto (PIB) avançou 7,5%, sucesso atribuído às políticas econômicas anticíclicas adotadas pelo governo federal para conter os efeitos da crise econômica internacional. 

Por sua vez, os dados das Contas Regionais revelaram que o PIB alagoano cresceu, em termos reais, 6,7%, ou seja, 4 pontos percentuais de diferença em relação ao Brasil. Em termos absolutos, o PIB cresceu de R$ 24,5 bilhões, em 2010, para R$ 28,5 bilhões, em 2011. Esse resultado foi bastante comemorado no estado, sobretudo pelos atuais gestores e responsáveis pela política de desenvolvimento. O argumento oficial mais forte diz respeito ao suposto sucesso da política de atração de novas indústrias, fruto das estratégias institucionais e subsídios fiscais oferecidos pelo tesouro estadual. 

De certo, os dados do IBGE demonstram que o setor industrial alagoano aumentou sua participação no valor adicionado bruto (VAB) do PIB de 21,2% para 25,2% entre 2010 e 2011. A indústria de transformação avançou de 9,3% para 13,5%, um resultado excelente. Ainda dentro da indústria em geral, também cresceram a participação no VAB, no mesmo período, a indústria extrativa (0,9% para 1,2%) e construção civil (6,6% para 6,9%). 

A economia alagoana continua concentrada em serviços e comércio com esses setores representando 68,7% do total (em 2010 alcançou seu maior percentual desde 1995, 72,1%), enquanto a agropecuária continua numa trajetória declinante em termos de contribuição à formação de riqueza no nosso estado, representando apenas 6,1% na agregação de riqueza à economia. 

Então, a que se deve mesmo o crescimento de 6,7% da economia alagoana? Quais foram os setores que mais contribuíram e suas razões? Como colocado no início, o argumento mais forte é que o estado voltou a se industrializar, fruto da estratégia governamental mais recente de atração de novos empreendimentos do ramo. 

Segundo a própria Secretaria de Planejamento e Desenvolvimento (SEPLANDE) do Estado, dentro da indústria, o crescimento real da construção civil em Alagoas foi de 29%, principalmente em razão i) dos projetos e programas habitacionais desenvolvidos pelo governo federal, ii) do programa de reconstrução das casas das vítimas das enchentes e iii) do aumento do crédito imobiliário. Com exceção do programa de reconstrução das casas das vítimas das enchentes, todos os demais fatores também contribuíram para boom da construção civil e do comércio ampliado (que inclui as lojas que comercializam produtos para construção) em todo o Nordeste brasileiro. 

No setor de serviços o crescimento real foi de 4%, reconhecido pela própria SEPLANDE como um resultado que acompanha e também é determinado pela conjuntura nacional e regional.  

A grande novidade, porém, é justamente na expansão do setor industrial, mais precisamente da indústria de transformação. Conforme a SEPLANDE, o crescimento real desse setor, entre 2010 e 2011, foi de 5,6% e se deve a eficiência da política de desenvolvimento do governo atual. 

No entanto, é preciso algumas ressalvas nesse ponto para não ser apanhado pelas aparências dos grandes números. As evidências apontam que a expansão da indústria de transformação tem correlação mais forte com a dinâmica econômica do setor sucroalcooleiro em 2011, do que propriamente aos resultados de uma expansão industrial com a instalação de novos empreendimentos. 

Para fundamentar essa colocação vejamos alguns importantes dados. Entre 2003 e 2011, o mercado internacional para as commodities industriais, minerais e agrícolas foi especial. No caso do mercado de açúcar, os preços médios do produto brasileiro se expandiram e alcançaram o pico de US$ 31,00 por saca de 50 kg, ao final daquele período. Entre 2009 e 2011 o crescimento médio dos preços foi de 50%.

Essa escalada de preços, fomentou o setor sucroalcooleiro alagoano e a produção saiu de 23,7 milhões, em 2005, para 29,2 milhões de toneladas, em 2011. Um incremento absoluto de 23%, mesmo resultado alcançado pelo Nordeste. Note-se que somente entre 2010 e 2011, o crescimento da produção de cana de açúcar em Alagoas alcançou 20%.

Como já é de conhecimento, o açúcar representa mais de 95% das exportações de Alagoas. O resultado desse extraordinário momento do mercado internacional foi alavancar as exportações do estado. Em 2011, portanto, o total das vendas ao exterior alcançou o ponto mais alto, mais de US$ 1,3 bilhão, o melhor já alcançado em 15 anos. As exportações alagoanas avançaram 41,2% em 2011 com relação ao ano anterior, o maior crescimento também já registrado desde 1999. O saldo das exportações nesse ano também foi o maior em 15 anos, US$ 920 milhões.

Portanto, não existem evidências muito consistentes de que o crescimento do PIB alagoano em 2011, e mais especificamente da indústria de transformação, tenha sido por causa da eficiência da política de desenvolvimento e atração de novas indústrias. Mais realista parece ser a hipótese de que foi, como sempre, a dinâmica do setor mais tradicional da economia alagoana, o setor sucroalcooleiro, que motivado pelo bom momento da economia internacional, influenciou, decisivamente, no aumento em 4 pontos percentuais da indústria no valor adicionado bruto do PIB alagoano, contribuindo para um crescimento real de 5,6% no setor de transformação. É muito importante lembrar que os problemas organizacionais e econômico-financeiros que algumas usinas em Alagoas vêm enfrentando têm início por volta de 2012, quando o mercado internacional começou a se contrair, cair as vendas no exterior e arrefecer a atividade sucroalcooleira.

Com exceção do avanço dos setores de serviços, comércio e construção civil, puxados pela conjuntura econômica favorável do Brasil e Nordeste, e determinada pelos diversos programas federais, expansão do consumo e obras de infraestrutura, e o anúncio de instalação de algumas ainda poucas indústrias, a economia alagoana, parafraseando o poeta Cazuza, continua sendo um museu com algumas poucas novidades naqueles três setores!

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