Selvageria X Futebol: um mal necessário (?)

09/12/2013 07:11 - Paulo Chancey
Por Paulo Chancey Viana

Com a devida licença dos especialistas em futebol, antropólogos e sociólogos de plantão, o título desse texto pode até chocar, mas vamos aos detalhes e me corrijam se estiver errado.

Todos os anos as cenas de selvageria dentro e fora dos estádios de futebol se repetem. São chocantes, ora pela ação dos “animais” sanguinários travestidos de torcedores, ora pela ação da polícia, fomentam o sensacionalismo da mídia que adora repetir as cenas milhares de vezes com o intuito de provocar a indignação das pessoas, e provocam uma reação burocrática do poder público que limita-se a extinguir as chamadas torcidas organizadas.

É preciso se entender, em primeiro lugar que esses linchamentos criminosos praticados em nome do amor por um clube é fruto de uma euforia coletiva, mas que tem orígem no comportamento individual. Cada uma daquelas pessoas presentes nos estádios são, pelo menos em tese, pessoas normais que estudam, que trabalham, que têm família, e que, curiosamente, criticam outras formas de violência como assaltos, crimes no trânsito, estupros, etc , e, portanto, de nada adianta a postura burocrática do Ministério Público propondo a extinção das torcidas organizadas, porque a violência produzida dentro e fora dos estádios não é fruto de uma decisão institucional (torcidas organizadas), mas da exacerbação da manifestação de preferência por um clube, e de uma questão comportamental de cada indivíduo, os mais temperamentais e explosivos acabam desencadeando nos “colegas” de arquibancada uma reação orquestrada, em cadeia, e o que se vê é o que já estamos cansados de ver. Ontem aconteceu com as torcidas de Vasco e Atlético Paranaense, mas na mesma semana já tínhamos visto os torcedores do campeão Cruzeiro protagonizando cenas de mais um capítulo de uma mesma novela. Já vimos as mesmas cenas, as mesmas reações do poder público, da mídia e da sociedade com torcedores do Flamengo, do Fluminense, do Grêmio, do Botafogo, enfim, de todos os times porque todos eles têm simpatizantes, apaixonados e fanáticos irresponsáveis e inconseqüentes.

Esse é o Brasil, atualmente mais do que nunca, o país do futebol, um esporte que é sustentado pelo torcedor, sim porque é ele que compra os produtos das grifes dos clubes, é ele que paga o ingresso, é para ele que são direcionados os faraônicos patrocínios colocados nos uniformes dos clubes e, portanto, é ele que paga o salário dos jogadores e que financia os altos negócios e negociatas do futebol nacional e internacional.

Não vai faltar quem (da mídia) coloque lenha na fogueira no sentido de suscitar na comunidade internacional, dúvidas sobre os sistemas de segurança pública em um país que se propôs a sediar uma Copa do Mundo de Futebol. De nada vai adiantar porque os interesses envolvidos são absurdamente maiores que tudo isso, a julgar pelo fato de haver em jogo – sem trocadilhos - bilhões em investimentos em estádios que depois não vão beneficiar a ninguém a não ser a iniciativa privada e funcionarem como luxuosos caldeirões de emoções, lágrimas, suor e sangue, enquanto que o sistema de saúde pública é vergonhoso, onde a classe pobre sofre e morre nas portas e em corredores de hospitais públicos sucateados, e a classe rica, que passa longe desse panorama, se trata no Hospital Sírio-Libanês. Além disso, outros interesses como a supervalorização de craques que são comercializados por altas cifras, a exemplo de Neymar, num aparente ingênuo e divertido mundo da bola que tem vestiários e bastidores sombrios e nebulosos, e que escondem os mais inconfessáveis desejos e diálogos além do grito de guerra dos jogadores, e que mascaram uma busca frenética por status, poder, dinheiro, fama, sexo, mentiras e videotapes.

É lamentável ter que dizer isso, mas nós vamos continuar assistindo essas cenas de selvageria, porque os seus protagonistas são financiadores de todo esse engenho que faz gente muito rica, que ri, enquanto algumas mães lamentam as perdas de seus filhos inconseqüentes que vestem camisas que lhes servirão de mortalhas e que compram o ingresso para a própria morte.

 

Até outra.

 

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