E eu tenho orgulho de ser da Terra Firme- diz a professora Ray.
O bairro da Terra Firme localizado na periferia de Belém do Pará tem acaí, cupuaçu, goma de tapioca, os típicos ingredientes amazônicos presentes na maior feira da América Latina: O Ver-o- Peso.
Terra Firme é considerado um quilombo urbano. E,um quilombo é um museu de histórias escondidas, escavadas. Um labirinto de memórias palpáveis.
Um quilombo urbano é patrimônio da história do povo preto, rico em significados, mas o abandono visível a olho nu, do bairro, diz o contrário.
É o 3ºbairro mais populoso da capital e tem cerca de 60 mil habitantes. Junto com os bairros de Guamá e Canudos totalizam cerca de 250 mil pessoas.
O bairro de Terra Firme fica a margem das políticas públicas e agrega uma diversidade de gentes e esgotos que esgotam águas barrentas da indiferença estatal. O lixo brota no asfalto em morros amontoadas ao longo dos dias.
Em muitos momentos as gentes viventes na Terra Firme falam do cotidiano cheio de cicatrizes, como chagas abertas. A cicatriz da discriminação. A mídia criminaliza o nosso bairro- diz uma moradora indignada. Quem mora aqui não é gente à toa. Tem gente de bem. Gente que trabalha. Aqui não tem só bandido. Precisamos que olhem pela gente. Não somos um bairro descartável! E eu tenho orgulho de ser da Terra Firme- diz a professora Ray.
Quando a gente diz que mora aqui a discriminação é maior- afirma Mae Bete.
É uma região isolada de políticas públicas. Suas ruas irregulares abrigam uma sucessão de casas feitas de madeiras, as tais palafitas, como também umas tantas construções de alvenarias. Conhecer o bairro da Terra Firme é uma oportunidade in loco de ir além do estigma do: “Me rouba!”
O quilombo é como uma aquarela de pobreza.
A partir da rusticidade dos ambientes, o bairro da Terra Firme guarda um rico acervo de gente simples, receptiva. Gente que tem uma boa prosa, banhada pelas águas amazônicas que cantam cantigas.
Conhecer Terra Firme é a oportunidade de acompanhar o povo avançando em diversas frentes, empreendendo, ousando,como o jovem Sidney Marcos Brito presidente da Associação dos Moradores São Gabriel e grande articulador popular-que vem reinventando- a partir da educação- de meninos e meninas as possibilidades para o saber, conhecer realidades.
Na verdade a Associação dos Moradores Gabriel Pimenta que fica na Passagem Souza, nº 12, Montese, bairro de Terra Firme é uma incubadora de ideias.
E, essa incubadora de ideias foi palco do I Ígbà Afro Índígena Zumbi Vive! uma iniciativa do Instituto Raízes de Áfricas , representação do movimento negro no estado de Alagoas, contou, em Belém, com o apoio estrutural da Associação de Moradores Gabriel Pimenta e do Coletivo Minervino Oliveira, de Belém do Pará.
E o I Ígbà Afro Índígena Zumbi Vive! juntou as muitas experiências, falas, expressões das gentes do quilombo e da localidade do entorno.
E iniciamos um novo caminhar identitário.
Falou o Quilombo no chão de Terra Firme!
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