Ao menos seis pessoas ficaram feridas durante uma confusão em Campinas (SP) na noite de sexta-feira (25) após uma passeata pela região central que pedia melhorias na educação e apoiava a greve dos professores do Rio de Janeiro. Jovens que afirmam ter participado de forma pacífica do ato acusam a Polícia Militar (PM) de abuso de autoridade e violência. No confronto na avenida em frente à Prefeitura, pedras foram lançadas contra os militares, que revidaram com o uso de bombas de efeito moral. Um PM também ficou ferido. Ao todo, 24 pessoas foram levadas para o 4º Distrito Policial (DP) após o confronto, sendo nove menores de idade.
Alguns manifestantes dizem que foram detidos e conduzidos por engano à delegacia. Eles estavam em um bar no momento em que foram abordados pelos policiais após manifestantes entrarem no comércio. A representante do Conselho Municipal dos Direitos Humanos e Cidadania Magali Mendes esteve na delegacia e afirma que vai cobrar da PM uma apuração sobre a denúncia de abuso de autoridade.
"É necessário que se cumpra a lei, mas é necessário também que se proteja os direitos humanos das pessoas. Nós vimos uma menina menor de idade muito machucada e um rapaz com o rosto todo machucado, além de pelo menos quatro dizendo que não estavam na manifestação e foram trazidos para a delegacia. Isso precisa ser apurado", afirma Magali. Todos os detidos foram ouvidos e liberados na madrugada deste sábado (26). A Polícia Civil registou boletim de ocorrência por desordem, desacato, resistência à prisão e lesão corporal. Os jovens feridos farão exame de corpo de delito no Instituto Médico Legal (IML).
Uma adolescente de 13 anos diz que foi agredida com um cacetete. Ela tinha marcas no rosto e nas costas. Um outro rapaz ficou ferido na cabeça e nos braços e relata que foi arrastado e agredido pelos PMs sem oferecer resistência.
"Houve excesso, inclusive abuso de autoridade. Quando me algemaram eu senti muita dor. Levei borrachada, choque... Não havia necessidade, nós estávamos com as mãos para cima, rendidos", conta o estudante que não quis se identificar.
Uma outra mulher, que também não quis ter o nome divulgado, teve luxação no braço e também acusa os agentes de abuso de autoridade. "Me jogaram no chão como se eu fosse um animal", descreve. Sobre as acusações de agressão, o tenente coronel da Polícia Militar Luís, que conduziu a operação, defendeu que houve apenas "uso de força moderada proporcional" para conter os suspeitos.
A PM recolheu pedras que teriam sido usadas pelos manifestantes e jogadas contra os policiais, além de um soco-inglês, uma corrente de ferro e um estilingue. "Isso não é coisa que se traz quando se quer participar de uma manifestação pacífica", afirma o tenente. Em nota enviada na manhã deste sábado, a PM também informou que houve a necessidade de intervenção por atos de vandalismo, mas esclareceu que não compactua com ações que se afastam da técnica e/ou da legalidade.
Confronto
Policiais militares e um grupo de manifestantes entraram em confronto na noite de sexta-feira, na Avenida Anchieta, próximo à Prefeitura de Campinas, após o protesto em apoio aos professores do Rio de Janeiro (RJ). Pedras foram lançadas contra os militares, que revidaram com o uso de bombas de efeito moral. Pelos menos 24 pessoas, entre estudantes e integrantes do movimento black bloc foram detidas e levados ao 4º Distrito Policial.
O confronto ocorreu ao final de uma passeata que teve início no Largo do Rosário e seguiu, com aproximadamente cem manifestantes, até a Prefeitura, passando pelas principais avenidas da cidade e pelo Terminal Central de ônibus. O grupo pedia melhorias na educação e entregou folhetos à população em apoio à greve dos professores cariocas. A caminhada com palavras de ordem durou quase três horas, o trânsito ficou complicado, mas não houve tumulto ou conflito.
Ao final do trajeto, entretanto, um grupo menor, de aproximadamente 50 jovens, fechou a avenida de acesso à sede do Executivo durante cerca de 30 minutos. A Polícia Militar, que acompanhou a passeata com um efetivo de pelo menos 200 homens, interviu e deu um prazo de 10 minutos para que a via fosse liberada pelos manifestantes, sob ameaça de uso de força para dispersão.
Diante do ultimato da PM, o grupo saiu do local e seguia sentido Avenida Brasil pelo meio da rua, impedindo a passagem de veículos. Os policiais formavam um cordão para acompanhar a caminhada no momento em que teve início o tumulto com pedras na direção dos PMs. Os militares, que não usavam escudo, correram e, imediatamente, outras viaturas chegaram ao local e utilizaram bombas e cassetete para deter os manifestantes.