A sexta-feira foi mais um dia de pensar com muita saudade nas 242 pessoas que morreram na tragédia da Boate Kiss, em função do incêndio ocorrido na casa noturna no dia 27 de janeiro. No dia em que se completam oito meses da tragédia, várias atividades foram realizadas em Santa Maria (RS) para lembrar o acontecimento e homenagear as vítimas.

A programação começou pela manhã, na praça Saldanha Marinho, no centro da cidade. Integrantes do Movimento Santa Maria do Luto à Luta e da ONG Para Sempre Cinderelas receberam doações de alimentos na barraca da Associação dos Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria (AVTSM).

As doações serão entregues nesta segunda-feira à Creche Criança Feliz, o primeiro local que foi ajudado pela ONG criada por cinco mães de vítimas para dar continuidade ao trabalho voluntário desenvolvido pelas jovens que morreram. Na tragédia, Flávia Torres comemorava o aniversário de 22 anos ao lado das amigas Andrielle Righi da Silva, 22 anos, Vitória Dacorso Saccol, 22 anos, Gilmara Quintanilha, 21 anos, e Mirela Rosa da Cruz, 21 anos.

Juntos, os familiares das meninas arrecadam doações de roupas, alimentos e objetos de higiene para entidades carentes. A decisão de chamar a ONG de "Para Sempre Cinderelas" veio pelo "lado princesa" que todas as meninas tinham. Quatro sapatos de salto 9 centímetros e um tênis All Star são a marca registrada da organização.

Nesta sexta-feira, as mães de três delas ficaram de plantão na barraca da AVTSM à espera das doações: Ligiane Righi da Silva, mãe de Andrielle, Fani Villanova Torres, mãe de Flávia, e Gilzélia Quintanilha Oliveira, mãe de Gilmara. 

À tarde, quem passava pelo Calçadão e pela praça Saldanha Marinho foi surpreendido por estudantes, que distribuíram abraços. "Nesse dia em que a tragédia completa oito meses, nós queríamos passar uma mensagem que, se nos unirmos e nos abraçarmos, Santa Maria ficará mais feliz", contou Gabriela Moreira, 14 anos.

A iniciativa foi moldada a partir de contatos feitos entre colegas de escola e pelas redes sociais. Cerca de 20 adolescentes distribuíram abraços no centro. Quase todos eram moradores do bairro Camobi, na zona leste de Santa Maria. Uma das pessoas que foram surpreendidas pela iniciativa foi a cadeirante Vera Belony Comassetto, 57 anos, que foi abraçada por vários adolescentes. "Ganhar abraços é muito bom. Isso tinha que acontecer todos os dias. É do ser humano querer um abraço. Às vezes, você está triste, deprimido, e basta um abraço para a situação melhorar", comentou Vera.

No início da noite, familiares e amigos de vítimas se reuniram na praça dos Bombeiros, onde participaram do já tradicional "minuto do barulho", com palmas. Motoristas que passavam pelo local participaram buzinando. A senha para o começo da manifestação foi o badalar dos sinos da Igreja Evangélica de Confissão Luterana, em frente à praça.

Os familiares entraram na igreja para um culto ecumênico ainda batendo palmas. A celebração foi comandada por representantes de diferentes religiões. Entre eles, o arcebispo metropolitano de Santa Maria, dom Hélio Adelar Rubert. Em sua manifestação, ele lembrou do encontro que teve com o papa Francisco em julho, no Rio de Janeiro, durante a Jornada Mundial da Juventude, quando conversou com o pontífice sobre a tragédia de Santa Maria.

Durante o culto ecumênico, houve um momento em que as cerca de 200 pessoas que assistiam à celebração foram convidadas a se abraçar. Após a cerimônia, familiares de vítimas receberam mudas, para simbolizar a vida. “Estamos agora em uma escada da vida. Eu não diria que vamos continuar vivendo, porque falta um pedaço. Mas temos que aprender a recomeçar. Essas mudas simbolizam esse recomeço", disse o presidente da AVTSM, Adherbal Ferreira.

De acordo com Adherbal, as mudas que sobrarem serão plantadas em um jardim que será feito no campus da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), em novembro.