Nós marchamos, Amarildo! Amarildo, para onde?"

05/09/2013 04:21 - Raízes da África
Por Arísia Barros

O estudante Diego  Ruas revive Drummond “ No meio do caminho existe uma pedra” e só a  social luta incessante por direitos iguais reviverá Amarildo. Onde está Amarildo?

 

"E agora, Amarildo?

o Papa voltou,

a noite chegou,

o gigante dormiu,

você sumiu,

onde está, Amarildo?

onde está, você?

Você que é pedreiro

sem paradeiro,

você que faz casas

que ama, pesca?

Onde está, Amarildo?

 

Está sem documentos

está sem direitos

está sem voz

já não pode trabalhar,

já não pode pescar,

amar já não pode,

a noite passou,

o dia não veio,

você não veio,

o riso não veio,

não veio a verdade,

Cabral não ouviu

a mídia se calou

a PM não viu

cadê, Amarildo?

 

Cadê Amarildo?

sua força de Boi,

seu tijolo de bronze,

seu barraco pequeno,

sua grande família,

seu pouco salário,

sua pele proibida,

seu bom coração,

sua justiça — cadê?

 

Com a vara na mão

quer abrir o mar,

mas não existe mar;

quer morrer no mar,

mas o mar secou;

quer ir para Rocinha,

Rocinha não há mais.

Amarildo, e agora?

 

Se você gritasse,

se você gemesse,

se você cantasse

o samba portelense,

se você corresse,

se você fugisse,

se você morresse...

Mas você não morre

você vive, Amarildo!

 

Unidos no escuro

qual bichos-do-mato,

sem democracia,

sem justiça, de fato,

para se confiar,

sem polícia montada

que fuja a galope,

nós marchamos, Amarildo!

Amarildo, para onde?"

 

Fonte:- AMARILDO - Poema de Diego Ruas, estudante de Engenharia Florestal e militante de esquerda. Baseado no poema "José" de Carlos Drummond de Andrade, em apoio à familia, amigos/as e vizinhas/os de Amarildo. Via Reage Artista.

 

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