É a economia, estúpido! Com essa frase, em 1992, os democratas ganharam dos republicanos e elegeram Clinton Presidente dos Estados Unidos. George Bush saiu derrotado. E James Carville, marqueteiro de Clinton, adquiriu notoriedade internacional. De lá para cá, quando as coisas vão mal para um governo, não precisa parar para pensar, basta resumir tudo dizendo: é a economia, estúpido!
Tenho lido algumas coisas que tentam explicar a quadra difícil que o governo federal está passando. E, na sua maioria, elas explicam essa má sorte da Presidenta pela veia da economia. E ponto. Como se a velha frase dispensasse um olhar mais atento para a realidade em nossa volta.
É certo que a economia dá sinais de que precisa melhorar. Estamos entrando no terceiro ano de pibinho. Temos problemas com as contas nacionais e uma balança comercial que não reage apesar do dólar forte. Os juros estão altos. A industria, por sua vez, não consegue reagir aos estímulos microeconômicos. Com pibinho, juros altos e necessidade de política fiscal restritiva, fica difícil ter um ambiente econômico tranquilo.
Mas isso explica uma queda vertiginosa na popularidade de um presidente, em um mês? O ambiente econômico não piorou em quatro semanas. Há muito esse quadro vinha se desenhando. A palavra pibinho nos remete ao ano de 2012. E cá pra nós, uma inflação de 7% ao ano, na hipótese mais pessimista, não coloca um milhão de pessoas nas ruas. Já vivemos dias piores.
O problema é político. O país está travado. Temos um problema sério de gestão, até para resolver as questões econômicas. E esse problema tem sua origem na política. O leque de alianças para garantir a chamada governabilidade tem levado a uma composição de forças tão heterogênea em seus interesses que dificulta a gestão pública.
A administração é contaminada pela lógica de fazer política tendo que ter maioria suficiente para aprovar emendas constitucionais e evitar CPIs. Há um frenesi pela busca de uma maioria que elimine qualquer coisa que possa se chamar de oposição. Isso cria uma distorção que compromete a própria dinâmica da democracia. E no médio prazo, é insustentável. O médio prazo chegou. A construção dessa maioria esmagadora levou à impossibilidade da construção de um programa de governo que desse uniformidade às ações governamentais.
Em democracias avançadas, um governo se forma em torno de um programa.  No Brasil, as alianças são constituídas em torno da quantidade de votos que elas possam garantir no Congresso, independente da repercussão negativa que elas possam ter na administração pública. A maioria constituída não precisa, portanto, guardar coerência programática. Essa lógica foi sendo construída ao longo dos anos, desde a redemocratização do país. Ela pode até atender a permanência de um mesmo grupo político no poder por algum tempo, mas não atende aos interesses nacionais. E hoje, até mesmo para manter o mesmo grupo, ela já não satisfaz.
É certo que em um regime democrático não se governa sozinho, e é bom que seja assim. As alianças são importantes e bem-vindas, desde que elas tenham uma plataforma mínima sobre a qual o acordo político possa se constituir. Há muito isso deixou de existir no Brasil, se é que em algum dia existiu. E por isso, bastou que o governo quisesse atender aos apelos do povo na rua, com propostas objetivas, para a base aliada mostrar toda a sua fragilidade, passando a funcionar como uma torre de Babel, com os partidos não se entendendo entre si, e os políticos não se entendendo dentro deles.
Da forma que as coisas acontecem, não há entendimento programático, só precisa distribuir espaços e garantir uma esmagadora maioria. O governo vai sendo tocado de acordo com o soprar dos ventos. Nesse jogo, os estados e municípios são asfixiados, o Parlamento segura o tubo, e o Poder Executivo fornece a quantidade de oxigênio de acordo com a fidelidade do parlamentar. Esse modelo esgotou.
Não é a toa que durante os últimos 20 anos estão esquecidas nos escaninhos do poder duas reformas impactantes: a reforma política e a reforma tributária. Nenhuma das duas saiu da gaveta. Redefinir o sistema eleitoral e o pacto federativo, garantindo mais autonomia para os entes federados e dando cor e brilho aos partidos, pode ser o começo de uma nova fase da nossa democracia. Pode abrir caminho para um novo modelo de gestão pública, onde fazer política não faça vergonha a ninguém, e cada um possa ter seu lado e defender suas idéias. Estando ou não no poder. Isso é política. É isso que o momento exige, e a economia agradece.