Nas últimas três semanas o povo foi às ruas num movimento tão inesperado quanto necessário para testar nossa democracia e forçar mudanças pelo Brasil afora. Para usar a frase de um grande filósofo alemão, o acontecimento caiu sobre Brasília como um raio em céu azul.
Pegou todos de surpresa e de tal forma que os acadêmicos se preservaram e foram bastante comedidos em suas palavras para não passar vexame científico. Afinal, o vigor do povo nas ruas depois de tanto tempo e em escala tao gigantesca, com uma avalanche de cartazes com propostas para tudo, precisava ser melhor enten dido. E isso é perfeitamente natural. Aos políticos, no entanto, o recado foi direto: pela ética na política e eficácia na gestão!
"Chega de corrupção e de discurso de que somos a sexta economia do planeta quando não somos o sexto país em educação, saúde e outros serviços públicos, por exemplo". Esse foi o recado dado pela garotada do facebook que até bem pouco tempo era subestimada (melhor seria dizer ignorada) por muitos dos que fazem política e se acham vanguarda da sociedade. Um puxão de orelha de uma geração que mostrou estar preocupada com sua herança, e estava muito antenada e não agüentava mais ficar na geral assistindo passivamente as coisas acontecerem ou não acontecerem. Traduziram melhor do que qualquer um os anseios da sociedade e puxaram para as ruas pessoas de todas as idades. Detonaram um processo de mobilização social como nunca houve na história do Brasil, como diria um expoente da política nacional. A reprimenda exemplar sobrou para todos os partidos, políticos e poderes da república.
É uma prova de fogo para a nossa democracia? É! E pelo jeito, agora, não só nossa juventude mas todo o povo brasileiro está disposto a saber o que há de capacidade nos que fazem política para consolidar a nossa democracia mantendo e ouvindo o povo nas ruas, o que pode resultar num aperfeicoamento das instituiçoes e dos que se habilitam a estar à frente delas, fazendo num curto espaço de tempo o que estava levando tempo demais para ser feito. O povo na rua pode ser o catalisador que vai acelerar as mudanças e os ajustes q a modernidade nos impõe.
É verdade que muito foi feito ao longo desses últimos anos em nosso país. Testemunhamos avanços em todas as áreas e particularmente no processo de inclusão social. Mas estamos muito longe do que queremos e do que essa juventude pretende de futuro para si. Ao nosso discurso de que enfrentamos a ditadura e conquistamos a redemocra tização do Brasil, a juventude responde sem pestanejar: é fato, agradecemos, mas não basta. E acrescenta lembrando um verso de Milton Nascimento, poeta de nossa geração, "se muito vale o já feito, mais vale o que será". Tá ligado?
Blog do Luciano Barbosa