Localizada na região central de Maceió, a Praça D. Pedro II (que –faz tempo- já foi conhecida como a Praça do Pelourinho) transformou-se em um campo de guerra. A ausência de salários por longos nove meses desenraizava o equilíbrio de tantos e muitos. Vivíamos uma ausência de lugar. Tínhamos um emprego público, mas não recebíamos por isso. A praça vestida de guerra era um confronto com o poder político. Queríamos nossa vida de volta. Precisávamos dar um basta aos suicídios de tantos pais e mães de famílias arruinadas pelo desespero.
A praça D. Pedro II , no 17 de julho representou o território dos encontros, somávamos nossa força, nos identificávamos.
Na praça milhares de servidor@s públicos vestiam um corpo só, olhares mais ou menos silenciosos- ou não- inspiravam a revolta incomensurável. Estávamos todos em uma vala comum dos desamparad@s. De modo substantivo nossas vidas estavam em farrapos. Em muitos momentos faltou comida à mesa. O grito da impotência nos definhava e lembro, com um alento de dor, de um pai que no auge do desespero matou toda família. Um entre muitos e tantos.
Precisávamos mudar o final daquela história e fomos à praça, lotada de gente.
E o aparto policial se fez. De um lado o Exército para conter a multidão. Do outro policiais militares e civis,como servidor@s públicos, entrincheirados, todos fortemente armados, como arquivos caprichosos, feito de rostos com impressões, cenas e referências do acúmulo do descaso institucional.
Lembro-me da ocupação da Biblioteca Pública pelos policiais militares. A Biblioteca transformou-se em um Quartel- General. O que queríamos? O impeachment de Suruagy, o Governador!
Eram violentas as explosões contra a brutalidade opressiva do poder instituído, em relação à paralisia imposta em nossas vidas. Nós nos sentíamos tragadas pela miséria e abandono.
No meio da multidão correu o boato que parlamentares da Assembléia Legislativas queriam tirar a vida da então deputada Heloisa Helena. O boato gerou reação dos militares na praça e ouviu-se o som dos tiros.
A então prefeita Kátia Born liderou a histórica derrubada das grades. O povo queria de volta seus caminhos de legitima cidadania.
E depois de muita pressão o governador renunciou. Começava um novo (?) capítulo da história.
Ter sido testemunha vivente de todo processo de descaso, fome e dor do estado alagoano com seu funcionalismo consolidou em nosso espírito o sentido da revolução popular.
Que as juvenis manifestações de junho de 2013, pelas ruas do Brasil adentro e afora, prezem o valor da soberania do povo. Sem os desvios político partidários, sem vírgulas que manipulam, sem aos parágrafos que cooptam.
Afinal, todo poder emana do povo, né?