Desde sua implantação, em 27 de junho de 2012, o Plano Brasil Mais Seguro - uma parceria envolvendo os governos federal e estadual para frear a escalada da violência em Alagoas - as críticas as ações surgiram de todas as partes. Apesar da população dar um voto de confiança aos gestores, entidades de classe e políticos se mostravam receosos quanto o desenvolvimento do plano.
Um ano depois o que se nota são poucas mudanças de posicionamentos; o sentimento de insegurança continua e a população segue apreensiva com os números de assassinatos no Estado que somente nos seis primeiros meses ultrapassam os mil, na capital e no interior. A maioria das vítimas são jovens, envolvidos com o tráfico de drogas e que não têm perspectivas de mudanças, já que as políticas públicas no âmbito social ainda são ineficazes.
Na Assembleia Legislativa de Alagoas, os deputados não conseguem enxergar avanços, já que o objetivo de reduzir os crimes no estado não estão sendo alvançados, mesmo com os dados divulgados pelo secretário de Estado da Defesa Social, Dário César, de que há uma redução em torno dos 10% nos homicídios.
Ao CadaMinuto, o presidente do Sindicato dos Policiais Civis de Alagoas (Sindpol), Josimar Melo fez uma análise do “Plano Brasil Mais Seguro” e mostrou uma insatisfação da classe, que parece ter refletido diretamente nos resultados, considerados fracassados.
“Um verdadeiro fracasso. Quando o plano se estabeleceu em Alagoas, a população não foi ouvida, os policiais também não. A ação foi enfiada “goela” abaixo, atendendo apenas os interesses de quem estava criando. E este é o resultado: a violência continua do mesmo jeito e pode ficar pior”, criticou.
A presença da Força Nacional em Alagoas, num trabalho que trouxe militares de outros Estados, também é motivo para críticas do sindicalista. “Não houve valorização dos policiais civis. Enquanto os militares da Força Nacional recebem ótimas diárias e salários que giram em torno de R$ 6 e R$ 8 mil, os agentes passam fome e sofrem com as condições de trabalho”, disparou.
Por fim, o presidente do Sindpol fez duras críticas a ação da Força Nacional no Estado, destacando as várias denúncias de abuso de poder. “Toda hora tinha gente denunciando a Força Nacional. Como eles são de fora, não criaram vínculo, não se preocupam com a população. Como se não bastasse os exageros com a sociedade, ainda despeitaram e agrediram um Policial Civil, que também tem como obrigação garantir a segurança da população”, finalizou.
Se a categoria de policiais civis demonstra insatisfação com a forma como o "Plano Brasil Mais Seguro” foi tratado em Alagoas, a Polícia Militar também tem críticas a fazer. De acordo com o presidente da Associação dos Oficiais Militares de Alagoas (Assomal), major Wellington Fragoso, não seria possível o plano dar certo sem a valorização dos policiais locais.
“Pensaram em tudo, no investimento, na Força Nacional, mas esqueceram do homem, do policial alagoano. Enquanto os militares da Força Nacional, que não respeitam os companheiros, as patentes, estão aqui a peso de ouro, nós vivemos de migalhas, esperando pela PEC 300 e o alinhamento salarial”, disparou.
Seria culpa da mídia?
A socióloga Ruth Vasconcelos acredita que o programa Brasil Mais Seguro é insuficiente para resolver a problemática da sociedade alagoana, mas que qualquer iniciativa que vise a reversão dos índices da violência é bem vinda. Ao saber da declaração do secretário da Defesa Social, Dário César, culpando a mídia pela situação de caos, a socióloga revelou em um documentário produzido por acadêmicos de jornalismo de uma faculdade de Maceió, que se posiciona de forma semelhante. Para ela, programas focados na violência exploram uma curiosidade mórbida da população que precisa ser desestimulada.
“Lamento que a violência continue sendo um produto mercadológico extremamente lucrativo para a mídia. Acredito que esses programas sejam um desserviço para a nossa sociedade. Eles não tem nenhuma função louvável, não contribuem de nenhuma forma para a construção de uma sociedade melhor”, ressaltou Ruth Vasconcelos no documentário ‘O outro lado do paraíso: a Maceió do Brasil Mais Seguro’.
Apesar do Estado figurar como o mais violento do país há mais de uma década a socióloga não acredita que o alagoano seja violento e atribui a situação ao processo social e cultural construído historicamente através de atos brutais, como processo de colonização. Segundo ela, os indivíduos não aprenderam a resolver seus conflitos de forma dialógica, o que leva a um quadro de explosão que resulta em muitos homicídios. A condição policial e estrutural da sociedade também foram apontadas como fatores determinantes na manutenção da violência.
“Nós vivemos um desemprego estrutural. As pessoas não tem um lugar no mundo. Quando se amplia a situação, enxergamos que não é só um lugar no mundo no processo produtivo é também nos campos educacional, familiar, social e cultural. Evidentemente nos estamos pagando um preço altíssimo por esse modelo de sociedade excludente. Além disso a polícia que existe hoje em Alagoas não pode ser vista apenas como um braço do Estado. É preciso que haja reformulação. Pensar em uma polícia cidadã, que possa atuar no tecido social, que tenha proximidade da população, que possa ouvir as demandas da sociedade, proteger e acolher, é necessário”, finalizou.
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