Uma cena de horror, atrocidade e bárbarie chocou a população alagoana no dia 24 de julho de 2011 e parece ter sido o estopim para que ações mais enérgicas começassem a ser adotadas na segurança pública. Era madrugada de domingo quando uma dona de casa foi arrancada de sua residência, enquanto dormia com os filhos, e acabou sendo esquartejada na principal avenida do Conjunto Carminha, bairro do Benedito Bentes, em Maceió.  

Aos 27 anos, Maria de Lourdes Farias Melo teve a vida ceifada. Morta a tiros, a jovem teve a cabeça decepada e membros amputados; a cabeça foi jogada a pouco mais de 20 metros do corpo. Mas a crueldade do assassinato foi ainda maior quando os criminosos usaram um dos membros da vítima para escrever numa parede a palavra 'cabueta'.  

Quatro dias após o crime, a segurança pública determinou a ocupação do Conjunto e outras seis áreas residenciais no bairro (Frei Damião, Parque das Américas, Freitas Neto, 29 de Julho, Cidade Sorriso I e II). Para restabelecer a paz para os moradores da localidade, uma mega operação foi montada com cerca de 130 policiais militares, 20 viaturas e 10 conjuntos do Batalhão de Cavalaria para combater o avanço da violência. 

Um mês depois, a população do conjunto já contava com uma posto policial, que se tornou a base comunitária para manter o clima de tranquilidade. O posto, que funciona perto de uma escola municipal e de uma unidade de saúde, conta com efetivo de militares que realizam patrulhamento pelos conjuntos do bairro. 

A morte da dona de casa deixou ainda mais clara a vulnerabilidade da população e o avanço da violência, seja nos números de homicídios, ou outros tipos de crimes, como assaltos, arrombamentos, tráfico de drogas, porte de armas. Com isso, as cobranças ao governo se tornaram mais intensas, assim como a contagem dos números de assassinatos, que segundo as estatísticas, mostravam um crescimento alarmante. 

A pacificação de comunidades

Não apenas o Benedito Bentes ganhou um olhar especial da Segurança Pública de Alagoas. Com o lançamento do Plano Brasil Mais Seguro - uma parceria entre os governos estadual e federal - outras áreas periférias, onde a população mais pobre reside e o clima de medo começava a aflorar, passaram por levantamentos e ganharam a distribuição de policiais para garantir o patrulhamento diário e inibir as ações criminosas. 

Vergel do Lago, Ponta Grossa, Dique Estrada, Virgem dos Pobres, Bebedouro, Jacintinho, Clima Bom, Tabuleiro do Martins são algumas das localidades cujos moradores cruzavam rotineiramente com o temor de se tornarem as próximas vítimas dos bandidos. A promessa do governo era transformar o pânico em paz, a insegurança em tranquilidade, as lágrimas em sorrisos, a morte em vida.

O mais crítico problema social vivenciado no estado é o tráfico de drogas. Em cada um desses bairros, são os traficantes que dominam os espaços e travam uma guerra quase que diária para manter o comando desse comércio ilegal. Jovens, adultos e crianças são cercados pela venda dos entorpecentes, o calcanhar de Aquiles dos agentes da segurança pública. 

Um ano depois do Plano Brasil Mais Seguro ser implantado, o CadaMinutou percorreu algumas ruas do Dique Estrada e a maior percepção é de que o medo de se tornar a vítima de criminosos é algo bastante presente. Ao avistar o carro da reportagem, os olhares ainda são desconfiados, poucos se arriscam a dar entrevistas e aqueles que falam querem manter o anonimato. "Tem sempre alguém olhando e isso pode custar caro", disse uma moradora, claro, sem se identificar. 

A rotina dos moradores é igual a tantas outras nos bairros da capital. Numa pequena casa, uma mulher lava roupa, recebe a reportagem na porta, conversa um pouco mas ao ser questionada de como é a atual realidade no conjunto, limita-se em responder de forma monossilábica: sim e não. Se pode gravar uma entrevista? "Quero não", diz a senhora.   

Mais adiante, outra moradora desmonstra insegurança ao ser abordada pela equipe, mas durante a entrevista afirma que o clima no local onde mora [nas proximidades da sede do 1º Batalhão da Polícia Militar] está mais ameno, já que percebe uma maior presença dos policiais circulando diariamente, seja em viaturas ou motos. 

"Aqui onde eu moro não tem tanta violência por causa do posto policial, mas a gente sabe que em outros locais, o tráfico continua praticamente igual. Em outros pontos, os moradores ainda vivem com medo. Não dá pra falar muita coisa, porque sempre tem alguém de longe observando e podemos ficar marcados", disse rapidamente a moradora, sem permitir um registro fotográfico. 

Mas são nas favelas do Mutirão, Galpão e da Torre que o crime amedronta por serem consideradas áreas de risco, segundo os moradores e a própria polícia. Para chegar aos locais o acesso é difícil. Ruas estreitas quase nunca permitem a passagem das viaturas e quando isso acontece de maneira rápida os bandidos se articulam e conseguem escapar do cerco policial. 

As tropas da Polícia Militar e da Força Nacional intensificam a segurança no bairro, seja de dia ou à noite. Os homicídios começaram a cair, mas no semblante o que aparece é a insegurança e a falta de confiança de que as ações até o momento implantadas foram eficazes, ao ponto de permitir a livre expressão de pensamentos. 

"Muita gente tem medo de denunciar porque quando acontece uma prisão, os bandidos logo querem saber quem foi o denunciante do traficante e querem acertas as contas. Ou você se cala para permanecer no local, ou fala e vai embora pra não se tornar mais uma vítima do crime", disse outro morador. 

Mais estrutura policial e ações intensificadas

Se as ações não são contabilizadas ou sentidas diretamente pela população, os militares do 1º Batalhão afirmam que as melhorias estruturais e também nas equipes beneficiaram a intensificação das operações e, consequentemente, o combate à criminalidade. As incursões nas favelas com o auxílio de helicópteros e de militares motorizados são pontos positivos apontados pelo subcomandante do Batalhão, o capitão Fortes. 

No dia em que a reportagem esteve na sede do Batalhão, integrantes de uma quadrilha, acusada de tráfico de drogas e responsável por assaltos nos bairros mais próximos, foram presos durante uma operação coordenada pelo tenente Pita, comandante do Grupamento Especial Tático de Ações Motorizadas (GETAM). 

Um minucioso trabalho de investigação culminou com a prisão dos bandidos, com idades entre 20 e 22 anos e passagens pela polícia. Maconha, cocaína, motos roubadas, bicicleta, além de duas armas e muita munição foram apreendidas na ação policial. Para conseguir êxito nessa, e tantas outras ações, a polícia comemora a participação mais efetiva da população. 

"Polícia Militar não tem bola de cristal e precisa do apoio da população que sabendo da maior presença dos agentes de segurança começa a denunciar. A gente aguarda nos próximos anos com o aperfeiçoamento do Brasil Mais Seguro, que o cidadão vai começar a aparecer, sentir que as leis estão sendo cumpridas e ter maior participação. Quando tiver a consciência e o projeto implementar novas ações o cidadão vai ser nosso principal colaborador", coloca  capitão Fortes.

O subcomandante ressaltou que as operações de saturação continuam nas regiões onde o batalhão atua, mas ele lembra a importância de diferenciar os tipos de ações realizadas pela polícia. "Essas operações pontuais realizadas pelo Secretaria, visa dar a sensação de segurança e não prender quadrilhas, apreender armas ou drogas. Como o vulto da operação é grande, o bandido não sai de casa, ou se sai não vai com a intenção principal de fazer o mal à população. Já as ações que são mais investigativas, a polícia está nas ruas, mas os bandidos não sabem que são nos seus encalços, é por isso que conseguimos pegá-los. A sensação de insegurança que a sociedade vive hoje, favorece o banditismo, mas vai chegar o momento que o bandido vai pensar duas vezes antes de cometer o delito porque a polícia vai está lá para pegá-lo". 

Com novas viaturas, armamentos letais e não-letais usados s principais policiais do mundo, coletes à prova de bala dentro da validade, a polícia acredita estar mais preparada para o enfrentamento à criminilidade. Mas para garantir o sucesso das ações na região, na avaliação do subcomandante a mais pobre da capital, é preciso ter um olhar mais abrangente em outros aspectos. Fortes afirma que o Brasil Mais Seguro, no quesito segurança, teve vários avanços, no entanto os problemas sociais ainda são entraves para erradicar a criminalidade em Alagoas. 

"Esse primeiro ano já há o que se comemorar. Uma redução de 10% é muito para a polícia que acomapanha os dados estatísticos, mas para a população pode não ser tão boa. Na minha área, são três pessoas que deixam de morrer, a sensação é boa como policial, mas para uma visibilidade maior, estamos tentando dia a dia com as operações fazer com que esse número de homicídios diminua ainda mais. Somos o estado que mais reduziu a criminalidade, talvez pela taxa ser tão alta e hoje tentamos estabilizá-las, mas esperamos que com os investimentos, as reduções aconteçam na nossa área", finalizou.