Somar os números de pessoas que morreram é um ato que assusta. Geralmente, apenas em guerras civis ou desastres naturais tal procedimento é adotado para organizar o caos. A violência acabou tornando este um ato cotidiano, corriqueiro. Pelas principais cidades do país, os números crescem.
Em Alagoas não é diferente. A curva ascendente de assassinatos tornou a situação intolerável e acima de qualquer estatística adotada pelas organizações que zelam pela vida. A violência ganhou destaque nos noticiários nacionais, figurou em estudos internacionais e fez com que o governo buscasse alternativas para brecar o crescimento e a sensação de insegurança.
O dia 27 de junho de 2012 foi o marco zero para a implantação do Plano Brasil Mais Seguro, do Governo Federal. Uma operação que contou com 400 policiais foi deflagrada em Maceió no Conjunto Virgem dos Pobres e simultaneamente em Arapiraca para marcar o início dos trabalhos. O trabalho dos policiais militares, civis e da Força Nacional para cumprir 120 mandados de prisão foi acompanhado de perto em Maceió pelo secretário de Defesa Social Dário César e da Secretária Nacional de Segurança Regina Miki.
O ministro da Justiça, Eduardo Cardozo, anunciou um investimento de R$ 90 milhões para a execução das ações, junto com o pedido de união de forças para mudar a atual situação do estado.
Ao longo de um ano, as operações foram intensificadas, bases comunitárias foram construídas nos bairros, as equipes da Força Nacional permaneceram no estado e outras ações foram desempenhadas. As críticas e análises acerca dos erros e acertos também foram constantes. Vieram de todos os lados. Entidades sindicais, políticos, membros da sociedade e até mesmo do próprio governo.
Voltemos a somar. Prestes a completar um ano de execução, os números de assassinatos mostram uma estabilidade se comparados ao ano anterior quando ainda não haviam sido implantadas as ações federais. De julho a dezembro de 2012, o boletim anual da estatística criminal em Alagoas da Defesa Social mostra que 1003 pessoas foram assassinadas. De janeiro a maio de 2013, foram mais 942 homicídios. Somados, os valores apontam para 1945 mortes.
Fazendo o mesmo somatório levando em conta o período de atuação do plano, de julho a dezembro de 2011, foram registrados 1146 assassinatos, enquanto de janeiro a maio de 2012 foram 995 assassinatos, totalizando 2141 homicídios. A diferença entre os dois períodos analisados é pequena: de 196 mortes.
Somatória diferente de um mesmo problema
Paralelamente aos dados estatísticos elaborados pela Secretaria de Defesa Social, a comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB/AL) também soma os números de assassinatos ocorridos no estado. E por vezes, o resultado final foi superior ao divulgado pelo governo. No último balanço divulgado pela comissão, nos três primeiros meses de 2013, mais de 600 pessoas foram assassinadas em Alagoas. O boletim da Seds aponta para 577.
A diferença para as estatísticas, segundo o presidente da comissão de Direitos Humanos, Daniel Nunes é o fato de a contagem realizada por eles levar em conta alguns homicídios que contam nos relatórios da polícia como ‘a apurar’. Nunes diz que estes casos só são incluídos nas estatísticas quando há a conclusão do inquérito policial.
“Nem sempre a contagem que realizamos é igual à da Seds. Na maioria das vezes, o número é superior. Independente de uma ou outra estatística, constatamos que o número de homicídios ainda é alto e isso precisa ser revisto”, afirma
Apesar de afirmar que a alta taxa de homicídios se manteve, o presidente da comissão de Direitos Humanos não quis falar sobre o Brasil Mais Seguro para apontar erros e acertos. Ele afirmou que ainda é prematuro fazer uma análise com apenas um ano de implantação das ações. Segundo ele, ainda há muito a se fazer e que investimento em pessoal é fundamental para o sucesso do plano.
“Com ou sem o plano, não resta dúvidas que a criminalidade ainda é muito alta. O plano foi implantado há um ano e é muito pouco tempo para se obter resultados imediatos. Deve-se pensar e trabalhar para obter resultados concretos. Defendo que seja investido mais em pessoal, na contratação e melhora dos salários dos policiais militares e civis. Falta policiamento nos bairros”, disse.
Os fins de semana em locais públicos ou próximo à residência continuam figurando como os principais cenários para os assassinatos de homens entre 18 e 29 anos, em sua maioria. A arma de fogo também continua sendo o instrumento usado na maior parte dos homicídios ocorridos em Alagoas em 2013.
Para o integrante da comissão de Direitos Humanos, os gestores das esferas municipal e estadual precisam investir mais em políticas públicas voltadas para a população que mora em áreas onde a violência é alta, a fim de evitar que tantos homicídios ocorram e figurem nas estatísticas negativas do estado.
“Volto a dizer que as pessoas são importantes para o sucesso das ações. Além disso, o governo tem que colocar à disposição da sociedade alternativas para inibir o contato com as drogas e os crimes. Ainda há muito a se fazer, temos que contratar mais policiais, continuar a investir na estrutura, mas sem esquecer que especialistas em todas as áreas tangentes ao plano são mais do que necessárias”, apontou.