Um possível crime de estelionato vem lesando servidores desde 2012. O primeiro caso registrado pelo 2° Distrito Policial (2° DP) acabou em acordo, mas nesta quarta-feira (27) um novo capítulo lotou a delegacia. Seis servidores públicos buscaram o 2° DP para denunciar o escritório da bacharel em direito, Marcele Araújo da Silva. Ela foi acusada de prestar serviços de consultoria e intermediação de venda de precatórios e não repassar os valores conseguidos na negociação para os clientes.
Uma audiência foi marcada para a manhã de hoje, mas Marcele chegou a confirmar presença, mas vendeu o apartamento, se mudou para o estado da Bahia e deixou as vítimas sem nenhuma resposta sobre o caso.
As dívidas dos precatórios foram contraídas pela Fazenda Pública. Após condenação judicial, cada beneficiário tem um valor a receber que ultrapassa sessenta salários mínimos. Sejam elas contraídas pelo município, estado ou federação o tempo de espera para que o pagamento seja efetuado ultrapassa os quinze anos, isso faz com que muitos servidores que tem a receber procurem empresas como a de Marcele, que prestem consultoria no caso e façam a intermediação da venda.
Marcelle é acusada pelos servidores de realizar as transações e não repassar o dinheiro. O chefe de serviço do 2° DP, Ariel Almeida, ressaltou que o caso já é de conhecimento da policia onde no ano passado foi intermediado um acordo com uma das vítimas, por isso nenhum inquérito foi instaurado e a possível estelionatária não pode ser investigada.
A servidora do acordo não quis ter o nome divulgado, mas revelou que teria R$ 79 mil a receber pela venda do precatório, 20% ficaria com a Empresa Marcele Araújo pelo trabalho de consultoria realizado e ela receberia R$ 63 mil. No entanto, só foi repassado deste total R$ 21 mil. Foi feito um acordo quando a mesma procurou o 2°DP onde Marcele se comprometeu através de promissória a pagar o restante da dívida.
Ela estava sendo representado hoje pelo filho, que disse que não acreditar no pagamento. Ele acompanhava outras vítimas como a servidora que teve o seu precatório vendido por R$90mil, mas segundo ela Marcele dividiu o documento em dois repassando a informação de que o valor que seria recebido era de R$45 mil e que seria dividido em seis parcelas de R$ 6mil. O ‘golpe’ só foi descoberto após a quarta parcela não ser paga. A servidora procurou outro advogado que fez um novo calculo e percebeu que o valor era o dobro do informado por Marcele.
Uma das vítimas chegou a chorar. Acompanhada da filha ela revelou que tinha R$ 80mil, dividido em oito vezes, a receber pela venda, mas que desse total foi repassado para ela apenas a primeira parcela no valor de R$ 10mil. O desespero delas se dava por um motivo especial, o marido e pai necessita fazer uma cirurgia para combater um câncer e o dinheiro serviria para custear o procedimento.
As vítimas se juntaram e procuraram o DP para que Marcele fosse intimada e que a situação enfim se resolvesse, no entanto, a advogada não compareceu a audiência agendada para hoje, vendeu o apartamento no bairro de Ponta Verde e se mudou para o Estado da Bahia onde teria conseguido um novo emprego. Ela foi representada por um advogado, que não quis se identificar. Ele disse que o caso não era policial e sim civil e que não iria divulgar nenhuma informação no momento.
Dois ex-funcionários de outras duas empresas de Marcele, a G3 Trade e o escritório M.A. de Melo, também foram ao local em busca de ajuda. Segundo eles, os mesmos foram demitidos em dezembro e até o momento não foi dado baixa na carteira. Sem contato com advogada eles resolveram esperá-la em frente ao prédio onde ela morava quando descobriram que ela estava de mudança. Conseguiram falar com a mesma, que entregou uma rescisão com carimbo e assinatura do sindicato falsificados.
O chefe de serviço orientou que eles procurassem o Ministério do Trabalho para que resolvessem o caso.
Os ex-maridos que tiveram o nome envolvido no caso com a abertura de outras duas empresas no nome de casada da possível golpista também estiveram presentes e cobraram um parecer.
Segundo a última alteração contratual a propriedade da empresa não é mais de Marcelle, que seria apenas uma administradora, e sim de sua mãe e irmã. Por este motivo no final da reunião as vítimas decidiram esperar um pouco mais e ficou acertado que Marcele, sua mãe e irmã seriam intimadas a comparecer às 11h da próxima segunda-feira para tratar sobre o caso.